quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Segundo dia do ano

O bar da esquina fechado por luto
Bem ao lado da banca de manchetes tristes:
Ele, ela, eles, elas, quantos abéis
Atingidos pelas pontiagudices metálicas e más
Concretas e gélidas, agudíssimas
Dos animais cains vorazes cruéis
Que se proliferam mais que as baratas e os ratos.

Os lampejos da vida roubada
Reluzem em corpos alheios –
Bonito isso,
Mas é uma rima, não uma solução.

E era só o segundo dia de um novo ano.

E se fosse um novo dia de um ano segundo,
Não primeiro,
Em que os humanos reprovados fariam nova prova
Para galgar nova fase, nova face?

Faltariam zeros no estoque
Não haveria mais negativos
Sem zeros sem negativos o mundo até pareceria bom.

Pura enganação:
Os impostos sobre os sorrisos vão aumentar
Como compensação.

E então chovem cerros franzidos
Sob os olhos molhados
Sob as artérias já tão molhadas
E caudalosos rios de tantas esperanças implodidas
Chovem gritos e rouquidões
Chovem mais ratos e baratas.

Lampejos! Lampejos!
O caos esgotado dos esgotos
Mistura larvas de borboletas e de taturanas.

Segundo dia do ano
Mesmo que datas não importem
Ao tempo que temporiza tempestades
E tempera têmperas
Segundo dia do ano
E já parece que envelhecemos tanto, tanto, tanto.

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