sábado, 29 de maio de 2010


Sempre haverá algo que não vejo,
que não verei,
mas que há.
(Foto: presente da Rô)

it's all about


No princípio, era o verbo.

(A protagonista de meu livro tem roubado meus posts. Mal terminei um, agorinha, e ela veio e o surrupiou. Aprendi a gostar dela apesar de sua insistência em existir. Teimosa, me soprava no ouvido suas frases, me pedia histórias, suplicava por parágrafos densos e copos de água. Suplica ainda por experiências diversas que começam a me atiçar. Ela me disse: use essa desculpa para sair do casulo. Enquanto isso, ela também sai -- de mim. Não fuja, me disse. Não fuja, lhe disse.)

E, ENTÃO,


NO TEMPO FABULOSO DOS INÍCIOS,
EU


FINALMENTE


PARI.



E assim começa a história de uma escritora e sua protagonista, suas duplicidades, seus desatinos, seus desacordos.

sábado, 15 de maio de 2010

(medo do goleiro diante do pênalti)

Mais uma xícara de café, entre cadernos de notas, canetas sem tampa, fios e cabos USB, livros abertos, brincos usados em dias anteriores, bilhetinhos diversos, aquelas incômodas cartas de banco. Mais uma xícara de café com o fundo borrado, ressecado, uma xícara a olhar a mulher descabelada, com roupa de casa, suspiros fundos e ideias confusas que brotavam aos borbotões, mas não saíam. Era uma prisão de ventre mental, ou o quê? Culpava a inspiração, culpava o cano de saída das ideias da cabeça, culpava seu desalento emocional, o barulho da rua, cidade ruidosa essa, descobria-se hiperativa, descobria-se com a síndrome da distração não sei o quê, talvez por não descobrir-se continuava coberta de medos e receios e nada acontecia na tela vazia do computador cansado. O computador estava cansado e seus teclados já se encontravam gastos. Estamos aqui, disponíveis, minha senhora. Mais uma xícara de café, o líquido borbulhante, o sabor único, encorpado, forte. A experiência única, encorpada, no corpo dela, forte, presente. Por que não começar daí? A literatura era a única salvação, era, não era? Tantas histórias impressas em seu corpo, em sua memória, em suas emoções. Era o casulo da escrita, era a escrita, a literatura, a salvação, a metamorfose! Rilke ensinava: “confesse a si mesmo: morreria se lhe fosse vedado escrever? (...) Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples ‘sou’, então construa a sua vida de acordo com essa necessidade”. Viver para contar, como havia dito Gabriel Garcia Márquez. Não via outro sentido. Então, por quê? Por que o fluxo se encontrava emperrado em algum ponto? Por que condenava a si própria, em sua volúpia de escritora, por que vetava de antemão o que estava a ponto de explodir?


Silêncio.


Silêncio passivo. E escuta.
Silêncio ativo. E escuta.


Sozinha e desamparada.
A maior solidão da existência. A própria existência como solidão.


Tinha medo.
E assim começou, de forma inexorável e inevitável, sem volta ou sem perdão, seu romance.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

de novo!

Pela metade
O copo o corpo o como
Presente
No intenso imenso imerso
Universo
De fatos de falos de fêmeas

Ele ali,
Na frente dela.
Janela.

Inaudível
Seu pedido gemido doído
Na mesa
Vinhos desalinhos espinhos
Esperança
Em retomar em reatar em remar

Ambos amam o mar.
Um barco apenas.

Antenas
Entendimento sentimento momento
Princípio
De perdão de sensação de tesão
Por inteiro
Um carinho um caminho um casal.

Lenço, lençol, lançados.
Uhh, lúcidos.

domingo, 9 de maio de 2010

sexta-feira, 7 de maio de 2010

#meufilme

Queimo, queimo meu filme, sim, queimo meu filme ainda que meus vídeos sejam digitais e minha câmera registre tudo no HD. Queimo, queimo meu filme, sim, por você não suportar me ouvir falar de profundidades quando sua expectativa comigo era discutir política. A dos outros, não a nossa: fronteiras, muros, bombas, sanções, seu conselho de segurança nega a veracidade dos argumentos de meu sentimento-premiê...

Queimo meu filme, falo de mim, me exponho cruamente no abracadabra de seus desejos ocultos, sou como um vírus de hardware, você me deleta de seus sentimentos e eu sigo avançando por seu corpo adentro até que, insolente, estupefato, suado e confuso, você chegue até minha porta e grite:

Queimo meu filme, queimo sim, falando daquele outro, dos outros, de todos os outros que amei e que hoje contam pedaços da minha história. Queimo meu filme assumindo que me apaixonei por outro enquanto você não me dava bola, que me apaixono por outro enquanto você não me dá bola, que seguirei me apaixonando por outro mesmo que sua condição sine qua non para me dar bola seja justamente minha ausência de gols. No outro. Nos adversários. Ora, não há adversários...

Queimo, queimo ardorosamente meu filme ao me rasgar virtualmente para você do modo mais singelo e honesto que um “@”, que um “.com.br”, que um tweet podem fazer. Mas você não me lê – ou finge, porque está todo dia ciscando no meu blog atrás de minhas pegadas, dos rastros que deixo, das migalhas de verdades ofuscadas por delírios infinitos e tão sinceros. Sei que você busca me entender.

Queimo meu filme me queimando por dentro querendo lhe dizer que é você você você você e nada mais. Mas queimo meu filme dizendo alto que eu quero um monte monte monte monte de coisas, que não você.

Queimo meu filme como se lhe dissesse: por favor, me esqueça, me deixe, me ignore, me desdenhe, me evite, me chame de “spam”. Queimo meu filme fingindo que não sei o que você espera de mim. Mas eu não sei mesmo.

No fundo, quem queima o filme é você.

Porque não quer que eu o decepcione.
Porque no fundo não quer que eu o decepcione.
Porque minhas profundidades são insuportáveis e eu não consigo simplesmente tomar sorvete e deixar por isso mesmo.

Porque eu não preciso da TV pública para gritar publicamente que faço de meu bem-querer bem público – para e por você.

Queimo meu filme porque 8mm são insuficientes para tudo o que eu poderia lhe fazer sentir. Hoje, baixam-se sentimentozinhos e vínculos em downloads insossos, isso pode lhe parecer mais prático e mais indolor... Você é um blockbuster nominado ao Oscar, enquanto eu sou uma proposta alternativa de cineclube vespertino numa sala abafada e escondida no centro da cidade.

Por isso, queimo meu filme. Só para lhe fazer fumaça.
Lóri Capitu, ela mesma, agora tuíta. Acompanhe: http://twitter.com/loricapitu. Uma mulher em sua inteireza, fêmea em ritual de amor, ensaiando suas compreensões do mundo. Ou dos mundos -- o dela e o ao redor...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sem açúcar

(MFV; serei uma dessas?)

— Sem açúcar.
— Perdão?
— Quero o café sem açúcar.
— Ah, sim.


23°
16h32


O que ele escreveu mesmo? Aliás, o que ele não escreveu? Buscava as entrelinhas. As entrelinhas do que ele disse. Buscava justamente o que ele não disse. Por que ele deixou de dizer? Não sei se ele sente, não sei se ele não sente. Ele não diz. Ele não disse. Bem, ele escreveu. Algumas vezes, sentimos saudade de coisas que, quando se apresentam, talvez não sejam totalmente como as planejamos. Será que devemos aceitá-las tais e quais aparecem?


23°
16h38


Suspiro longo e profundo. O suspiro mais longo do mundo. O mais profundo suspiro do mundo.


22°
16h45


Não sei o que pensar. Sinto: sinto um espinho delgado adentrando pele adentro, corpo adentro, esperança adentro. Eu tinha uma esperança. Ando ansiosa demais. Parecia a pessoa certa na hora certa, mas sem certezas, mas sem que eu estivesse certa disso. Ou ele. Ou seja, nada. Ou tudo. Não sei o que pensar. Sinto: não me deixe aqui sozinha, por favor. Choro. Choro morno e silencioso, choro público.


23°
16h57

― Moça, por favor, acabou o guardanapo.
— Já lhe trago. Algo mais?
—...


23°
17h01


Merda.
Não tinha grandes expectativas. Só queria que fosse ele. Que ele fosse “ele”. Não planejei relação nenhuma, não sonhei com nenhum encontro excepcional, não consegui nem nos imaginar fazendo amor. Só queria que fosse ele. Porque ele não nasceu de nenhum empurrãozinho de minha razão. Porque, inclusive, minha razão ficava fazendo joguinhos de autossabotagem para mim e para ele. Porque ele simplesmente me atraiu. Porque meu corpo, meu coração, minha inquietude o pediam, todo o tempo. Porque fui surpreendida por meus próprios sentimentos. Porque saí de meu script. Porque... não sei de nada.


21°
17h14


Sinto frio. Sinto dor. Sinto solidão.


23°
17h35


Não fui arrebatada. Ele não me arrebatou. Nem eu o arrebatei. Talvez eu persiga justamente isso: um homem que me arrebate. Um cavaleiro que me pegue pela cintura, não me deixe pensar, e me leve para dentro de seu castelo-coração. Um homem que, ao olhar para mim, sorria ao sentir-se tão prometido. Que me faça sorrir, prometida. Persigo um homem que me arrebate e que seja arrebatado por mim. Será esse meu erro, “perseguir”?
Sou uma romântica de merda.


23°
17h59


“Travessia”, de Milton Nascimento, ecoando entranhas adentro. “Vou querer amar de novo/ e, se não der, não vou sofrer./ Já não sonho/ hoje faço com meu braço o meu viver.”


21°
18h04


Mais um daqueles suspiros imensos. Meu mundo, neste momento, cabe nesse suspiro. Mas eu fiquei maior que meu mundo. E afundamos, eu e meu mundo, em meu coração. Que também cabe nesse suspiro. Sim, de fato é imenso. Um suspiro imenso.
— Um chá quente, por favor. E broas. Broas de fubá.


22°
18h25


Eu me lembrei do cheiro de sua barba. Achei estranho aquele cheiro. Não me senti nele, sabe. Era um cheiro que não me incluía. O cheiro de sua barba não me incluía. Porque você não me inclui. Você me beijou como retribuição dos meus sentimentos por você, não foi? Sua barba o denunciou. E eu compreendo você, sabe. Fomos ambos surpreendidos. Eu, por esses sentimentos malucos todos. Você, por minha verborragia corada e sôfrega. Até me lembro de que lhe falei: “não estou loucamente apaixonada, não é isso”.


23°
18h26

Não estou loucamente apaixonada, não é isso.


24°
18h28

Não entendo mais nada. De mim mesma, de você, do mundo, de alguém.


22°
18h30

— Por favor, um outro café.
— Sem açúcar?
— Sem.


23°
18h43

Tampouco quero voltar para esse mundo aí. Estou cheia. Cansada de Obama, Netanyahu, Ahmadinejad, Sarkozy, Chávez. Cansada da revista Veja. Cansada das merdas ditas e feitas pela bancada ruralista no congresso nacional. Cansada da impunidade – dos corruptos e dos milicos ex-torturadores da ditadura brasileira.

Peço dispensa de minha humanidade hoje nesse mundo de merda. Mas estou trancada. Só poderia fugir para seus braços, se você quisesse me receber. Mas você aparentemente não quer.

Como você escreveu? Não gosto de “não sei”, mas agora é o que me vem à mente. Como levar adiante isso?

Quero ser dispensada de ser humana por hoje, pelamordeDeus!


23°
18h58


Sou uma romântica de merda.


22°
19h09


— A conta.
Venta, isso, venta, venta, venta noite fresca de outono. Me venta inteira, me reinventa, me arrebenta. O escuro não me deixa ver as pegadas, mas eu sei que elas estão aqui. O escuro não me deixa ver as feridas, mas eu sei que elas estão aqui. Enquanto isso, enfrento esse mundo imundo e sem fundo. Enfrento a solidão do abrir-se. A solidão do doar-se. A solidão do ‘não’. O dãodãodão da solidão. A imensidão da solidão.

Nessa cidade de 19 milhões de habitantes, estou sozinha com essa tal imensidão da solidão. Que cabe no meu suspiro. Então, esse suspiro realmente é grande.

E eu sou uma romântica de merda.
Sem açúcar.

terça-feira, 4 de maio de 2010

INCONTRO (versione in italiano)

Era una piccola scoperta, che ho fatto in segreto anche da me stessa, forse per paura, forse per alcune stupida resistenza ancora viva dentro me.

Lui.

Quando pensavo a lui, il mio spirito tremava. Ma era una sensazione nuova, strana. Il mio spirito tremava come un morbido terremoto che vineva del cuore fino la bocca: un sorriso inaspettato, pieno di desideri insensati.

Lui.

Quando ci siamo incontrati di nuovo, quella volta era il corpo che tremava. No, non sò cosa succede, che cosa è questa sensazione di nuovo?

Io.

Sorpresa, sedotta. Distratta però così attenta, emozionata. Panico. Tra le sue braccia. Panico. Nel suo abbraccio. Panico. Sono una donna presa al panico, cerco di scappare quando ho voglia di essere là?

Io.

Quando arriva il momento, ando via.
Anch’io!
Ma io semplicemente ando via.
Io, almeno, dico addio.
Non lo faccio.

Noi.

— Ho chiamato per dirti “arrivederci”.

Chi sà quando ci incontreremo di nuovo, chi sarà ...
Coltiviamo il silenzio, perché camminiamo – i due – per il deserto, il grande deserto della vita, sognando sotto le stelle, ascoltando il saggio che a volte attraversano le nostre strade (non importa dove ci troviamo), ci lanciando nella profondità.

Tempo.

Nel frattempo, tratto dei sentimenti diversi. Affetto, mancanza, gelosia. Anche gelosia.
Nel frattempo, cerco di capire il mio panico. Il mio desiderio. La mia femminilità.
Nel frattempo, genero una vita dentro di me; non è ancora un bambino (mío, nostro?), ma sono io stessa, senza pelle: sorpresa, sedotta. Distratta però così attenta. Nuda, per andare anche più lontano.

Deserto.

Hey, tutto ciò che ti chiedo è questo: non ti perda da te.
Che non ti perda da me.

ENCUENTRO (o: dos viajantes en un día de primavera...)

a tí, S.



Era una pequeñita descubierta, sobre la cual hice secreto hasta para mí misma, tal vez por miedo, tal vez por resistencias tontas que aún cargaba acá dentro.

Él.

Cuando pensaba en él, mi espíritu estremecía. Pero era un sentimiento nuevo, raro. Mi espíritu temblaba, como un terremoto suave del corazón a la boca: una sonrisa inesperada, llena de deseos insensatos.

Él.

Cuando nos vimos de nuevo, fue la vez del cuerpo estremecer. No, no sé lo que pasa, qué es esa nueva sensación?

Yo.

Sorprendida, atraída, distraída más tan atenta, emocionada.
Pánico. En sus brazos. Pánico. En su abrazo. Pánico.
Soy una mujer en pánico, por que quiero escapar cuando tengo ganas de quedar?

Yo.

Cuando llega la hora, yo parto.
Yo también parto.
Pero yo simplemente me voy.
Yo, al menos, me despido.
Yo no.

Nosotros.

― Te llamé para decirte ‘hasta luego’.

Quien sabe cuando nos volveremos a ver, quien sabe...
Cultivamos el silencio porque caminamos – los dos – por el desierto, el gran desierto de la existencia, soñando bajo las estrellas, escuchando los sabios que por veces cruzan nuestros caminos (no importa donde estemos), lanzándonos a la profundidad.

Tiempo.

Mientras tanto, manejo sentimientos diversos. Cariño, añoranza, celos. Hasta celos.
Mientras tanto, manejo mi pánico. Mis ganas. Mi feminidad.
Mientras tanto, genero una vida dentro de mí: aún no es un hijo (mío? nuestro?), pero soy yo misma, sin cáscaras: sorprendida, atraída, distraída más atenta. Desnuda, a fin de llegar aún más lejos.

Desierto.

Hey, sólo te pido esto: que no te pierdas de ti.
Que no te pierdas de mí.