domingo, 30 de outubro de 2011

~~ infinidade ~~~~

Hoje vou cantar as rimas mais pobres que conheço, vou limpar a sola dos sapatos mais puídos, vou colher meus fios de cabelo mais rebeldes que caem indóceis no meio do caminho. Hoje vou me dar conta das coisas minúsculas da rotina mais cotidiana, dos minutos mais sem nexo, dos raios de luz mais invisíveis – e que quase não me alcançam. Hoje celebro uma descoberta acima de quaisquer palavras, a essência daquela que sou, daquilo que sei e, especialmente, de todo esse mistério infinito que pouco explico, mas que acolhe minha existência mais túrgida. Hoje, e não amanhã. As rimas, os raios. A essência, o infinito. Onde quer que, como quer que, hoje.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

desiderio


Estou áspera e rude como as paredes que me encerram nesta cela de pudores. Contenho explosões poliglotas de desejos semiadormecidos, semidespertos, seminus de credenciais. Mas sou inteira, não metades afoitas tentando um aperitivo ou um vermute. Quero banquete, ainda que único, ainda que impreciso, quero o acordo tácito para devorar. Fome e sede, ganas e garras, estrógeno correndo por todos os vasos e vistos: enlouquecimento sano, suave e sintomático – se me salvo, é claro, da desesperação desde dentro desta cela infame. A salivação já começou há tempos, como sempre costuma acontecer: dentes pontiagudos, seios pontiagudos, poros permeáveis e faro aguçado. Passa, passa, e me enlaça, me abraça, me faça e refaça. E me deixe refazer-te, inverter-te, ah, deslizo e realizo, te invento e te comento. Desenovelamos, um suspiro, talvez dois, ah,

Mas sigo áspera e rude, como e onde, quando e que, nesta cela de pudores, a conveniência e seus horrores, a convergência e todos os possíveis e exaltados amores.

Insisto? Espero?
Por agora, um sanduíche.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

sapatinhos



One day, by chance, blue shoes came across the rose ones. Astonishment. Hiccups. Delirium. Hola, perdón, ¿puedo estar aquí un rato? Rose shoes couldn’t understand those words, but caught the meaning: Tu es le bienvenu! Timid smiles, fleeting glimpses, almost invisible movements. Que mona eres. Tu es quelqu’un de vraimant charmant, toi. Drops of melancholy from each side: time is extremely cruel as we are within this boderland – nowhere, elsewhere – where reality fits expectations perfectly and that weird feeling of belonging does make sense. Quisiera poder quedar. Je voudrais que tu n'allasses pas. But conjugating verbs like « to leave », « to go », « to move » and so on was a kind of expertise from both Rose and Blue shoes. No es un consuelo. Il n’y a pas d’espoir? Espera: ¿qué más nos resta? Rester. Atentos. Attente. Attraction, sharing. Shapes, smells, sighs. And so, and then, and thus, seconds started to flow again. Hasta la vista, au revoir. And that’s it: thatness.
Thatness, for sure.



domingo, 16 de outubro de 2011

luz del estío

Siento un gusto de frontera disuelta en esa tarde melancólica. Demasiado espacio. Vacíos casi insoportables. Ausencia. Y todo me sobra: la luz, la calidez del verano, la casa inmensa, el corazón abierto de par en par.

Los rincones gritan: saudade.
Más que nostalgia, decías, más que añoranza, silenciabas.

Éramos un reino – y todo alrededor era resto de geografías ajenas.
Te fuiste con las alas, me quedé con la inmensidad de belleza triste y ojos húmedos. Ahora casi quiero rechazar ese mapa que me pone como un gran continente, solitario y olvidado.

*~* primavero, primaveras.

Hay todavía el olor de sus manos

De sus manos que deslizan que se disuelven

Por mi piel por mis pies por mis piernas

Por el rosa de mis mejillas

Por las mejillas de las rosas


Esas rosas que me envuelven como recuerdo del efímero

Ese efímero tan eterno de nosotros

Que somos, ya fuímos y pronto dejamos de ser

Siendo siempre y aún, y aún, y aún.


Sus manos tienen todavía el olor

De las rosas que pueblan

Esa piel eses pies esas piernas

Esas mejillas que tocaste, menino.

Y que – já sei, já sei – volverás a desbravar.


(Soy una constante primavera)