quarta-feira, 20 de junho de 2007

Pequerrucho bem-me-quer (ou só é cego quem não quer ver)

Diz a menina-filósofa da Adriana Falcão:
“Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.”

Falávamos em chama e eu, durona, não me preocupei tanto com o combustível.
Mas aí fez click. Num momentinho entre a noite e a madrugada, a alma tocada pela sensibilidade da arte e da vida, houve o click. Ouvi o click, sem muito esforço. Reverberou no vizinho, no prédio vizinho, no país vizinho, fez bum! splash! crash!, um estrondo.

E desse estrondo brotou uma tal necessidade –
Aquelas de sentir acima do limite, uma quase oração,
Um choro de encantamento, um rio em ebulição –
Chamada saudade.

Não sei o que acontece comigo, mas é um momento de mel e sangue (nas palavras de Caio Fernando Abreu, em “Pequenas Epifanias”) delicadamente colocado na minha frente, na frente de meus olhos outrora incapazes de ver. Tampouco sei ao certo o que vejo, não minto, mas sinto e sinto tanto que às vezes os cinco sentidos se multiplicam em dez, em vinte, de uma vez.

E faz uma semana que fui à oftalmologista, que me disse que a miopia havia aumentado, que o astigmatismo havia aumentado, eu com medo de enxergar ainda menos. Estou vendo mais agora.

No filme “Vida Secreta das Palavras”, da Isabel Coixet, as palavras – as não-ditas, especialmente – ganham um rumo inesperado de coração a coração. Quando saem, aos borbotões, viram canhões e flores e retalhos e frangalhos. E se misturam todas: as particulares, as coletivas, as diminutas, as imensas.
Com você, esse passear de desejos-e-instantes-e-dores-e-sabores-e-florescências-e-fluorescências-e-sorrisos-e-persistências com as palavras-valise acontece também na minha vida! E isso é lindo!

Ah!
Senti suspiro-lembrança-imagem de rever “Janela da Alma”, de João Jardim e de Walter Carvalho; parece redundância mas não é. Ver, não ver, como ver, por que ver. Temos o que ver hoje em dia? Sim, eu tenho a você.

O momentinho está tentando fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue. Ah, peninha. Suspiro suspiros. Saudade.

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