terça-feira, 19 de junho de 2007

Improlucha

Ambos artistas –
da vida, antes de tudo.
Com o pé no chão,
A boca disponível,
Sensores puramente instintivos.

Ele bebia cerveja,
Ela rodava a saia no bailado eletrizante.
Ambos entregues,
Dionisíacos,
Ao prazer. Puro e simples prazer
De estar. Aqui, lá. Aqui e lá.

O melhor papel é não ter papéis.
Eu quero todas a sensações possíveis
No fluxo mais intenso desse instante,
Desse exato instante.

Improvisar é preciso,
Sempre é preciso,
Representar não é preciso.

Ele, ator no palco.
33 anos. Argentina. Nome e sobrenome,
ditos assim, com ar borracho,
cerveja na mão, olhar trôpego,
riso sôfrego e cheeeeeeio de vontades.

Ela, atriz na platéia.
Idade não revelada, “X” (pra que o nome?).
Era de São Paulo, mas queria ganhar o mundo.
Garrafa de água com gás, goles naquela cerveja,
Cheeeeeia de disponibilidade.
Vontade de não desgrudar os lábios
Nem fechar os ouvidos para o blablablá
Sem sentido, mas tão sensualmente dito.

– Chica, quien sos?

Tudo improvisado,
Até chegar alguém –
Como em todos os momentos
Sempre chega alguém que se acha
No direito de comandar uma representação.
Esse papel é meu,
Com licença.
Eu sou a estrela, eu sou a diretora,
Eu sou a mocinha, eu, eu, eu...

A maior de todas as dignidades
É despedir-se com elegância do público.
E assim foi:
A única coisa que X não improvisou
Naquela madrugada pulsante
Foi o cumprimento à platéia.

Houve aplausos depois.

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