terça-feira, 15 de abril de 2008

Blueberry nights (ou: Hora de atravessar a rua)

O novo Wong Kar-Wai. De encher os olhos, mas sem a densidade que eu esperava. "Pusilânime", disse uma moça no banheiro, ressuscitando um termo empoeirado. Não seria o meu adjetivo... Porém, tive lá meu momento epifânico e só por ele valeu. Cito de cabeça, com a permissão dos equívocos de tanto digerir e regurgitar as frases.

Elisabeth, em certo momento, conta que vai optar pelo jeito mais demorado de cruzar aquela rua. Dito isso, parte em busca de si mesma pelo interior dos Estados Unidos. Jeremy a procura, sem sucesso, mas descobre que o problema maior não são as chaves para trancar ou destrancar uma porta: a questão é se, atrás da porta, há uma pessoa que espera.

Elisabeth também fala que, na noite da partida, chegou a estar com a mão no trinco da porta do bar para se despedir, quem sabe comer a torta, como de hábito. Mas sentiu que, se fizesse isso, estaria sentada na mesma cadeira até aquele momento e seria a mesma pessoa de quase um ano atrás. Ela não queria mais ser aquela mulher, sentia necessidade de ser outra. Por isso, decidiu atravessar a rua. Atravessar demoradamente a rua.

Um amigo chamou a atenção para minha foto da "pombinha turca", que está num post aí abaixo (Solidão de Indivíduo). A pomba parece indecisa em seguir atravessando a rua. Por que uma pomba atravessa a rua? Para ver o que há do outro lado, é a resposta. Por que a gente sai em jornada? Para ver o que há do outro lado. Para ver a nossa vida do lado de fora da vitrine, da janela, da porta, do bar, da rua.

Uma amiga me falou que não tenho obrigação nenhuma de ir até o fim, com objetivo de provar coisas, se não sentir vontade. Estou de acordo, ainda mais porque nem sei qual é o fim -- por isso, voltarei para algum ponto anterior quando e se o coração pedir. Mas o que desejo, neste momento, e isso ficou bem claro, é atravessar a rua e ver o que há do outro lado. Durante o trajeto, partilho, presto atenção nas boas iniciativas. Uma vez do outro lado, aí sim, tomo a decisão: re-atravesso a rua e volto para o lado onde estava ou sigo naquela calçada por um tempo até atravessar uma nova rua, em outra direção?

Essas são questões para as quais não tenho respostas e nem me preocupo.
Olharei para os dois lados com prudência, antes de pôr meu pé fora da calçada.

E, como Jeremy, beijarei o beijo que meu coração pedir. E não me preocuparei com as chaves, porque abrirei as portas que tiver de abrir. E, se for para ser, haverá alguém à minha espera.

Um comentário:

Anônimo disse...

acabo de assistir!De encher os olhos e molhar boca e alma.