quarta-feira, 19 de março de 2008

a*bruxa*

(2007, MF)

Sem vozes cadavéricas ou verrugas assustadoras,
Ela chega devagar, pantufas e penhoar,
E se instala bem aqui dentro.

Tudo ensolarado, brilhante e quente,
E no dia seguinte: menos cinqüenta graus
No aconchego com jardim e pomares da alma.
Susto.

O feitiço apaga até as decepções inflamadas:
Num refrigerador sem luz interna,
Em que o ar viciado desdenha qualquer novo oxigênio,
As paredes têm cor gelo e nenhuma fissura.

A vida incomoda
E a existência parece um despropósito de grandes proporções
(embora as dimensões do mim mesma beirem o minúsculo).
Torpor.

Irritantes, os pulsos viram solenes sermões
– milongas perdidas em vazios externos, exteriores, extirpados
[Nada pior que um vazio esvaziado e esquecido]
– sermões que seguram mãos, sermões que pregam as músicas latentes.

Vinte e quatro horas de só noite
E se há um melhor lugar do universo aqui e agora,
Procure um esconderijo embaixo dos lençóis.
Não há girassóis.

Não me reconheço
Mas isso também é tão meu
Se não era, ficou sendo.
Ferida.

A bruxa desaparece com sonhos e memórias e raivas e planos
e... e... e...
Com a própria lembrança dela mesma
Desaparece com tudo
Entope armários, canos, vasos e veias
E judia, inclusive, das meias
Que eu queria usar
Para dormir melhor.

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