quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

saudade, saudade





Vou sentir saudade.
Observávamos nuvens e formigas, e ele veio falar em saudade. Quis mudar de assunto. Mas o reflexo de minha mão ajeitando o cabelo trouxe saudade a mim também.
É por isso que não deixamos o casulo.
Falávamos de nuvens e de formigas, não de borboletas. Mas ele entendeu.
Medo de não haver reencontro...
Pois é.
Realmente a gente não tem o menor controle sobre isso. Suspiro. Sonho. Brevidade. Beijinhos. A padaria inteira.
Ele riu, eu sorri, ainda ajeitando o cabelo. O problema não eram os fios, eram as mãos. Elas queriam tocar as mãos dele. Eu me continha e agora falava de beija-flor.
Beija-flor, borboleta... Você não acha que eles têm algo em comum? Estão em busca das flores, sempre. Não importa se o cenário é horrível. Não importa se o pólen parece contaminado. Não importa se eles mesmos pareçam patéticos buscando flores quando as atenções estão voltadas para os esgotos, os escrotos, os arrotos, os intestinos rotos.
O olhar dele disse tudo naquele instante.





Minhas mãos estavam na face dele.




Também vou sentir saudade.
Não fale nada.




Como era mesmo a padaria inteira?
Ri, ele sorriu.
Suspiro...
... brevidade...
... sonhos...
... e beijinhos!



Confesso: tenho medo de não vê-la nunca mais. Presencialmente, quero dizer, não pela TV ou via webcam, ou por meio de seus emails, textos...
Um medo que eu também tinha.
Mas...
Não fale nada.




Fazia tanto sentido, tanto, tanto, tanto.



A gente tem medo, no fundo, de que perca o sentido. Mais do que não haver reencontro, o medo é de que o sentido intrínseco do encontro primeiro arrefeça e que todo aquele sentimento vire uma lembrança. Doce, mas lembrança. Um adjetivo, não mais um substantivo. E que venha o pensamento: não faria sentido hoje.


Nuvens. Formigas. Borboletas. Beija-flores. Flores. Flores e a rima.
Música romântica em língua outra, doce e pólen.
Na padaria:
Um suspiro.
Um sonho.
Brevidade.


Beijinhos?



Não, Maria-mole.
Já lhe disseram que lágrimas são gotas de mar com as quais Deus nos presenteia sempre?
Sorri.
Não fale nada.

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