domingo, 6 de setembro de 2009

(time after time 1)

(mfv,2009)

Estava no canto do salão observando a aparente felicidade dos demais. Era apenas ela ali, naquela sombra, naquela pequenina solidão. Ela e seu vestido destoante. Ela e seus sonhos esvoaçantes. Ela e seu sorriso ainda despercebido. O sapato apertava-lhe um pouco os pés. Ela.


Acordara há pouco, ainda misturando bocejos e areia, e atordoada notou que o sol iluminava todas as pegadas que deixara ao redor. Havia caminhado muito, não podia negar, mas as rotas estavam demasiado confusas. Parecia que ela tinha milhares de pés desarticulados, movendo-se em difusas direções. Continuava a haver areia em seus bocejos. E suas pegadas tinham formas de mundos, muitos mundos. Profundos.


Havia um lapso de desejo desinstalado em seu peito. Havia, na verdade, um buraco no coração pelo qual escapavam seus enamoramentos e os dos outros em relação a ela. Parecia não sentir nada. Dessentia, então, insensações.


Passou a tomar menos café e a evitar sobremesas. Respirava mais intensamente e exercitava-se pela manhã. Assim, prolongou sua esperança e constatou que era preciso mesmo fazer opções, ter mais focos, fixar-se em algo ou alguém ou com agulhas.


Confusa e adorável equilibrista...
Desenhou uma janelinha na parede do quarto escuros sem janelas e sem maçanetas. Com o vento, ouviu “Aquarela” e experimentou a passagem do tempo ao revés. Estranhou: havia setas apontando para lados diferentes. Por que assim? E duas metades suas já não encaixavam. Com o tempo não se brinca!


O mundo a imagina, mas ela existe de fato. Só não tem certeza se de fato existe na própria certeza. Quem? Ela ou o mundo? E são essas as perguntas que sempre traz... (Suspiros. Suspira!) Na filosofia do céu azul, existe o momento em que nuvens cinzas se misturam às luminosas e claras e resultam todas num permeável pode ser. Pois aí ela se encontra -- nos dois sentidos.

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