— Não
suma.
— Não
fuja.
Não se
assuste.
E, então,
naquela quase-madrugada fresca e ligeiramente embevecida, naquele momento em
que certas coragens etílicas se faziam tão aparentes, nos despedimos.
Depois, o óbvio:
nos assustamos com nós mesmos. Fugimos. Sumimos. Desaparecemos.
Sentimentos
interditos brotaram, a princípio tímidos, gradativamente intransigentes. Fiquem
tortos em seu canto, tem dito a razão. Tortos e inertes. Não nasçam, não cresçam,
não se desenvolvam. Desafiem a lei da vida; abortem-se. Os afetos são surdos.
Os afetos são irracionais. Petulantes, provocam todo o tempo a ordem estabelecida,
reviram ralos e remos, riscam discos e desafinam os cânticos. Estão aí, sobreviventes,
beligerantes, em franca travessia e invasão de fronteira. Por que não?
Somos duas
mulheres, somos dois homens. A questão é que sempre coincidimos. Quando somos
mulheres, o somos as duas. Quando somos homens, o somos os dois. Assim, nunca
estamos uma mulher e um homem. Por isso, a impossibilidade. Mas vá dizer aos
afetos, vá explicar-lhes como as coisas funcionam no mundo prático, pragmático
e viável. Os afetos simplesmente encontraram uma brecha e soltaram-se.
A vontade
era ficar apenas a seu lado, em silêncio. Receber um abraço seu. Ouvir, ouvir,
falar, falar, tocar. A vontade era provar de novo esse sentimento de saciedade
num peito tão insatisfeito.
— Não
suma.
— Não
fuja.
Estou muito
assustada.
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