quarta-feira, 1 de junho de 2011

atônita

Tentei fazer brigadeiro, que não deu ponto por causa do calor e do leite condensado, excessivamente líquido. Mas as bolotas esparramadas ficaram tão gostosas que acabei por aceitar a impermanência das formas e desfrutar da experiência. Choveu repentinamente, mas logo o sol voltou como se nada tivesse acontecido. O céu também fazia seus brigadeiros esquisitos. Por isso, dei pouca importância às roupas molhadas no varal. Confesso: dei pouca atenção ao cotidiano em geral nesta segunda-feira.

Ainda estou atônita observando esse “¿” que apareceu assim, de modo displicente, em minha vida. Uma provocação, uma pergunta, um início de indagação, uma questão caída por terra, uma iluminação que escorregou do céu. Não sei. Um certo tipo de amor inexplicado e inexplicável. Um espanto às avessas é uma certeza travessa? Quem saberá... Eu pouco, quase nada. Tergiverso, eu sei. Tergiverso versos túrgidos e inversos.

¿

Não sei o que dizer. ¿ – e me ponho toda sentimental, quase edulcorada. Enrubescida e doce. Olho pelo espelho, mas não descubro todas as respostas. Imagino que seja fruto de uma saudade antecipada gerada por uma vontade de grudar nele e não sair mais dali. Não quero participar de sua rotina e de suas noites curtas, permeadas de sonhos com anjos caídos ou armadilhas no chão escuro, armadilhas cobertas por palha ou grama. Erros irrecuperáveis, certa vez me disse. Tampouco quero sexo – por algum motivo, ele alcança minha alma, mas não chega a meu corpo. Quero as manhãs de sábado, passando as mãos por seus poucos cabelos, escutando suas histórias. Quero as noites de sexta, compartilhando cervejas e filosofias e depois sua geografia. Quero as tardes de domingo, entre o sol e a janela, percorrendo de trem caminhos de belezas diferentes e tocando de leve sua mão. Assim.

¿

¿, não sei o que lhe perguntar. Nem o que lhe responder. Não tenho o que lhe dizer. Meus comentários estão supérfluos diante de minhas sensações. São muitas e ainda parcialmente catalogadas. Há várias endêmicas, que só acontecem aqui. Bem aqui.

Pois talvez eu deva voltar à cozinha e preparar algo mais complexo, que exija fermento e muita farinha. Talvez eu deva lavar novamente a roupa, estender minhas dúvidas e molhar quaisquer inquietações a fim de ver se brotam. Às vezes ocorre de aparecer um toco de esperança ou de violetas, e assim a vida se torna mais palpável, compreensível.

Um comentário:

NelsonMP disse...

Ontem chegando na estação Brigadeiro a voz feminina no interior do metrô disse que era a Paraíso. Ela deve gostar muito de brigadeiro, né?¿
A interrogação pode ser um gancho ou um cabide para pendurar dúvidas, não é bom deixa-las soltas ou esparramadas.