quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Ainda que esteja surda ou paralisada, meu útero me lembra de que sou mulher. Não mãe em potencial, alma feminina, mocinha inteligente ou bombocados afins. Não. Me lembra estridente: m-u-l-h-e-r. Às vezes me esqueço. E, nos momentos de assexuadice, ele chacoalha dolorido as dores e dolores cá de dentro: sai. Volta, mulher. Irrita-se com as férias forçadas. Manda embora veracruzes, dulces, evas e busca de volta mulhermariamulher. Meu útero desdenha das revistas femininas, dos aparelhos de ginástica e das dietas insossas. Ele gosta de sangue, de vermelho, de presença, de voracidade, de tenacidade, de entrega. Não se cegue, ele me diz, diz não, grita, porque meu útero não é discreto. Ignora as convenções e pede vestidos, saias e sandálias, pede homem. Meu útero afirma que não importa nada disso que me aborrece, porque no fundo é ele que reluz quando. E se. Como. Para. Meu útero é meu órgão revolucionário, liberta a alma, fala de amor aos domingos e delira nas noites de lua calma. Ainda que à revelia, quando cinza, explodo em rubro uterino, veemente e faceira. Mulher, mesmo em descrédito, mulher, surpreendida.

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