Eram duas vidas cruzadas ali por puro mistério. Um pouco pálidos, talvez pela solenidade do enlace, mas os batimentos acelerados revelavam que seus corações andavam corados. E ali, naquele momento, entre “A Whiter Shade of Pale”, o buquê de rosas e eles, esse ritmo róseo era o que realmente importava.
Um dia, ele partiu. Não foi repentino: a separação provocou a mesma dor da união, posto que desencaixe do encaixe. Tudo seguia muito simples, sem qualquer ostentação, e todos os presentes olhavam para frente. Não houve música naquele dia, os ventos mineiros espalharam as folhas secas por cima da laje de mármore da família e espantavam as borboletas. Ambos estavam pálidos de verdade. Ela, pelo impacto da ausência. Ele, pela partida irremediável.
As cores sempre voltam a seus sabores. E, graças a esses dois mundos, estou aqui – um universo largo e difuso, mas belo pela própria natureza de universo humano.
E, se hoje passa uma nuvem muito grande e pesada sobre mim e sob o sol, acato a necessidade da pausa, da solidão e da transformação. Uma breve sombra pálida que não tira meu rosado, mas o realça: a novidade, como diz o genial Rilke, passa ao sangue depois de ter sido solenemente absorvida pelos intestinos e interstícios do ser naquele período pesado de tristeza e de paralisia momentânea diante da vida.
Fui gerada assim também: num instante pálido, como uma novidade, gestada no silêncio sôfrego das indefinições e brindada ao mundo por meio de sangue, placenta e amor.
E cá estou, pois. Estamos.
Bem-vinda, novidade. A seu lar que sou eu.

El ratón se enamoró inmediatamente. Se quedó horas en la esquina de la pared mirando la bella silla azul, tan distinta, tan desubicada en aquel salón imponente. Creyó haber visto una lágrima le escurrir hasta la alfombra. Quizo abrazarle, pero decidió no acercarse. Volvió un día, después otro y más otro. La silla seguía calada, pensativa; los otros muebles comunicabanse en la lengua de muebles, y ese era un idioma extranjero y extraño para el pobre ratón. Tal vez hablaban de su objeto de amor, tal vez no. Quien sabría? En la única vez en que pasó delante de la silla, siguiendo la línea de la otra pared, notó que ella le lanzó una mirada triste. El corazón del animalito salió del compaso: estaba aún más enamorado.