terça-feira, 28 de julho de 2009

arroubos

(mfv, 2009)


-- Mas por quê?

-- Não vou repetir de novo. Já quebrei o disco arranhado há tempos. Você não quer me escutar de verdade. Se quisesse... -- bufou.
E então o inóspito: a maçaneta ficou na mão dele, impedindo-o de ir embora.

Ele chutou a mala, ela largou a almofada no chão. Silêncio. Silêncio. Bufo, suspiro. Silêncio carregado de tensão. Aquele olhar, ai, meu Deus. Eles se agarraram, se amaram, gargalharam, choraram, se desculparam, abriram uma garrafa de vinho reserva de 2004, juntaram as roupas dela em outra mala, arrombaram a porta e, em plena segunda-feira, às 16h14, pegaram o carro rumo às serras fluminenses ou à costa baiana ou aos interiores de algum lugar lindo e só deles. E falaram muito, muito, diálogos que há tempos não tinham, inclusive sem palavras.


Um comentário:

Débora Didonê disse...

E o silêncio diz. Como diz.