Ela voltou depois de anos. Ninguém a vira exatamente partir. Partiu, assim, como se fosse estar um tempinho ali ou lá, já vinha fazendo isso, por isso ninguém notou. Ou ninguém quis notar, já que estavam todos ocupados com suas correrias cotidianas, um tanto cansados com as idas e vindas dela, não pareciam mais novidades. Além disso, suas andanças a modificavam deveras, e eles já haviam perdido a paciência de acompanhar tais mudanças. Como se não bastassem os desafios espinhosos de seus próprios passos, oras. Horas. Dias. Semanas. Meses. Anos. Seriam séculos, se a expectativa de vida não fosse um limitante.
Ela voltou depois de anos. Ninguém se deu conta da partida, a princípio. Aos poucos, uma lembrança embaçada de seu sorriso ou de suas falas inflamadas, ou ainda de seu ar de camponesa robusta, ou de seus suspiros alargados, uma lembrança assinzinha, vinda à toa, trazia saudade, um olhar naqueles que estavam online na lista de “ao redor”, uma vontadezinha de estar junto. Mas não havia tempo, nunca havia. E ela já estava longe, distante de verdade, dissolvida nas esperanças e nos sonhos acumulados rotas afora e adentro, misturada a eles.
Ela voltou depois de anos. Não buscou reconhecimento nem foi reconhecida de imediato. Não reconheceu muita coisa, mas os fragmentos de vivências antigas retornaram com uma força gigantesca e atemporal. Seus pés a levaram a caminhos antigos e já disformes. Reencontros vieram. Antigos-novos, novos-antigos. E lhe perguntavam por quê, por quê, pois mesmo com os anos as pessoas não se conformavam com as dúvidas irrespondidas, razões rachadas. Mas e eu, e eu, falavam aflitos e afoitos, descreviam o susto, a decepção, a dúvida, o conformismo. Ela se calava atenta, surpreendendo-se com o outro que era o Outro, deliciando-se com suas novidades imperceptíveis muito além dos discursos de “que fiz isso, que fiz aquilo”. A ela não lhes interessava contar o que fizera nem escutar o relato pré-cozido daqueles que a reviam. Queria desfrutar desse desconhecido que brotava em cada conhecido, ainda que lhe cobrassem: “por que não me disse nada”.
Ela voltou depois de anos. Trazia o mesmo corpo, mas tinha um filho. Como ninguém notou, ninguém soube. Voltou depois de anos com novas sabedorias. Sabia cozinhar especialidades, dançar diferentes bailes, captava imagens cotidianas com outro apuro e um afeto mais refinado. Mas ninguém notou exatamente, ninguém logrou perceber. Ela voltou depois de anos, acompanhada de novas gentes dentro de si, mais pintas, mais cicatrizes, mais azia, mais alegria. Porém, ninguém notou, só prestavam atenção no cabelo que continuava igual, nas rugas que não aumentavam – sortuda! –, nos joelhos que permaneciam meio escuros.
Você não mudou nada, disseram. Foi como se não tivesse ido.
E quando ela partiu de novo, então, deram graças a Deus por não ter que suportar um pouco mais aquela chata ingrata, provocadora, uma verdadeira estranha.
Ela voltou depois de anos. Ninguém se deu conta da partida, a princípio. Aos poucos, uma lembrança embaçada de seu sorriso ou de suas falas inflamadas, ou ainda de seu ar de camponesa robusta, ou de seus suspiros alargados, uma lembrança assinzinha, vinda à toa, trazia saudade, um olhar naqueles que estavam online na lista de “ao redor”, uma vontadezinha de estar junto. Mas não havia tempo, nunca havia. E ela já estava longe, distante de verdade, dissolvida nas esperanças e nos sonhos acumulados rotas afora e adentro, misturada a eles.
Ela voltou depois de anos. Não buscou reconhecimento nem foi reconhecida de imediato. Não reconheceu muita coisa, mas os fragmentos de vivências antigas retornaram com uma força gigantesca e atemporal. Seus pés a levaram a caminhos antigos e já disformes. Reencontros vieram. Antigos-novos, novos-antigos. E lhe perguntavam por quê, por quê, pois mesmo com os anos as pessoas não se conformavam com as dúvidas irrespondidas, razões rachadas. Mas e eu, e eu, falavam aflitos e afoitos, descreviam o susto, a decepção, a dúvida, o conformismo. Ela se calava atenta, surpreendendo-se com o outro que era o Outro, deliciando-se com suas novidades imperceptíveis muito além dos discursos de “que fiz isso, que fiz aquilo”. A ela não lhes interessava contar o que fizera nem escutar o relato pré-cozido daqueles que a reviam. Queria desfrutar desse desconhecido que brotava em cada conhecido, ainda que lhe cobrassem: “por que não me disse nada”.
Ela voltou depois de anos. Trazia o mesmo corpo, mas tinha um filho. Como ninguém notou, ninguém soube. Voltou depois de anos com novas sabedorias. Sabia cozinhar especialidades, dançar diferentes bailes, captava imagens cotidianas com outro apuro e um afeto mais refinado. Mas ninguém notou exatamente, ninguém logrou perceber. Ela voltou depois de anos, acompanhada de novas gentes dentro de si, mais pintas, mais cicatrizes, mais azia, mais alegria. Porém, ninguém notou, só prestavam atenção no cabelo que continuava igual, nas rugas que não aumentavam – sortuda! –, nos joelhos que permaneciam meio escuros.
Você não mudou nada, disseram. Foi como se não tivesse ido.
E quando ela partiu de novo, então, deram graças a Deus por não ter que suportar um pouco mais aquela chata ingrata, provocadora, uma verdadeira estranha.
2 comentários:
pausa nos comentários literários e puxa-saquismos. vc também é santista? ta de brincadeira!
Resposta a quem me pergunta:
http://diariodeloricapitu.blogspot.com/2008/04/esse-campeonato-paulista-j-tinha-me.html
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