quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

intersecções

(Dé Didonê, 2008)
Para a espevitada e sonhadora amiga,
que, aos poucos, aprende a usar suas belas asas



Distraídos com outras brisas e com o sabor de cafés de outros tempos, com outros temperos e açúcares, ele e ela se deixaram escorregar num encontro macio e acolhedor. Salvador reluzia, exalava condimentos e cores, muita música, muita percussão, as ondas estalavam nas praias todas e nos corpos todos. Para que pressa, então? Expectativas, cubos de gelos, meias ou luvas?

Era a intersecção de duas vidas inteiras, vividas de verdade, na composição de um poema fluido na primeira pessoa do plural. Nós. E sorrisos, e partilhas, e histórias, e olhares, e suspiros. Suspiros?

Não era nada de mais, ainda assim era tudo. E era bom, continuava macio e acolhedor, era bonito também. Tinha jeito de pôr-do-sol com céu rosado e brilhante, à beira do mar. Porque não tinha nada excepcional, exuberante ou com show pirotécnico; e, por isso mesmo, pela singeleza do escorregão suave um na vida do outro, devagarzinho, como se fosse um balé, aqueles encontros tornavam-se tão especiais.

O dia ganhava uma hora a mais, além das obrigações todas, do comer e dormir e escovar os dentes e trabalhar e passear e limpar as janelas, que era a hora deles.
Deles.

Minutos, dias, semanas. Há sempre uma despedida – mas a largura dela não nos pertence, ainda menos a mim, que assisti à história de longe, de ouvidinho e coração em compasso melódico, suspirando eu também por um escorregão aquático e lunar na vida de um alguenzito meio torto, meio rude, mas tão alguém.

A despedida daqueles dois foi menos uma ruptura e muito mais reticências ou travessão. Porque era preciso iniciar um novo parágrafo. Ou um novo verso, talvez. Ou ainda, uma história longa e linda. Singular, plural, quem sabe?

Suspiros.
Suspiros e saudades, no plural, porque saíam com aquela mesma distração de antes e olhares ainda recém-nascidos para a descoberta.
Eles não sabiam de nada, embora sentissem tudo. Eu, daqui do meu cantinho, tampouco sei. De mim, do alguém e deles. Mas acho tudo muito bonito, porque me soa vida, porque me soa amor. Porque me soa humano e verdadeiro.
Sem porquês.

(Minha versão para a história narrada em http://didoneante.blogspot.com/2008/10/reentrncias.html )

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