Eu queria que ele estivesse aqui
Olhando para as begônias,
Junto comigo olhando
As corajosas begônias róseas
Que insistem em botões mesmo
Quando deixam cair suas flores,
Vencidas pelas paixões-desilusões da vida.
O luto das minhas begônias
– Oh, surpresa! –
Tem botões.
Mas ele não está aqui
E por isso me encontro de luto.
Luto contra esse luto,
Que empurro para frente.
Um luto de borbotões.
De bofetões no ego.
Um luto-em-aprendizado
Dos botões.
Não visto preto.
Não me enluto, nem me assusto.
Quem disse que luto precisa ser triste?
E escuro?
Um luto com a companhia das begônias
Pode ser róseo.
Eu visto rosa.
Toco música,
Como doce de côco,
Acendo a luz, todas as luzes,
Afinal não há caixão,
Não há prisão –
Houve, sim, um dia,
Aqui, bem aqui,
Uma emoção.
Que quer passar.
Que precisa passar.
Declaro, com pesar,
Que ele não está aqui, bem aqui.
Que ele jamais estará aqui de novo.
Que ele não se encontra mais em você.
Que ele partiu de você para outra.
Eu quero brotar botões
Porque, sem ele, minhas flores caem...
O azulejo que me espia
É azul, embora
Pareça redundância.
Ele foi embora, ele é azul?
Ele não foi porque nunca veio.
Ele esteve – ele passou.
Ele virou hora?
Ele entrou no tempo?
Virou vento, sentimento?
Grudou nos azulejos e
Se põe agora a me espiar?
Soa, sou redundante:
Sem ele e de luto.
Eu quero brotar botões.
Não sei mais de quais mortes
Tenho medo
Nem se ainda tenho medo das mortes,
Dessas mortes todas
E diárias.
Das mortes dos jornais,
Das mortes dos nossos pais,
Das mortes de nossas partes,
Das mortes de nossas paixões.
Daqueles pedaços da vida que se desprendem
Do desprendimento dos pedaços da vida que ainda estão presos.
Das flores que já se acham ressecadas
E delicadamente se despedem:
Não nos mantenha aprisionadas!
Medo não tenho, então, tenho saudade.
Tenho saudade.
Aquele tipo de vontade
De ser quem fui naquele tempo
Quando.
Enquanto.
Com.
E.
Ah, fazia muito sentido.
Sinto, agora, sentida,
Uma dor lá no fundo,
Dor de quem brota.
(Tive um sonho na noite passada.
Ele passeava do meu lado.
Eram dois caminhos, duas estradas.
Andávamos separados. Mas ele me convidou para ver as
Estrelas de sua janela, no topo da escada.
Não entendi ainda – estou enlutada. Mas entenderei,
Eu sei.)
Botões.
Rego as begônias,
Às vezes coloco o vaso perto da janela,
Em outras dou-lhes sombra.
Aceito os botões, sim, eu os aceito,
Um dia virá outro luto, de novo,
E mais outro, e mais outro.
E outros botões.
E, aí, então,
Farei como os redundantes azulejos azuis:
Vestirei rosa.
(sexta-feira da paixão, 2007)
Olhando para as begônias,
Junto comigo olhando
As corajosas begônias róseas
Que insistem em botões mesmo
Quando deixam cair suas flores,
Vencidas pelas paixões-desilusões da vida.
O luto das minhas begônias
– Oh, surpresa! –
Tem botões.
Mas ele não está aqui
E por isso me encontro de luto.
Luto contra esse luto,
Que empurro para frente.
Um luto de borbotões.
De bofetões no ego.
Um luto-em-aprendizado
Dos botões.
Não visto preto.
Não me enluto, nem me assusto.
Quem disse que luto precisa ser triste?
E escuro?
Um luto com a companhia das begônias
Pode ser róseo.
Eu visto rosa.
Toco música,
Como doce de côco,
Acendo a luz, todas as luzes,
Afinal não há caixão,
Não há prisão –
Houve, sim, um dia,
Aqui, bem aqui,
Uma emoção.
Que quer passar.
Que precisa passar.
Declaro, com pesar,
Que ele não está aqui, bem aqui.
Que ele jamais estará aqui de novo.
Que ele não se encontra mais em você.
Que ele partiu de você para outra.
Eu quero brotar botões
Porque, sem ele, minhas flores caem...
O azulejo que me espia
É azul, embora
Pareça redundância.
Ele foi embora, ele é azul?
Ele não foi porque nunca veio.
Ele esteve – ele passou.
Ele virou hora?
Ele entrou no tempo?
Virou vento, sentimento?
Grudou nos azulejos e
Se põe agora a me espiar?
Soa, sou redundante:
Sem ele e de luto.
Eu quero brotar botões.
Não sei mais de quais mortes
Tenho medo
Nem se ainda tenho medo das mortes,
Dessas mortes todas
E diárias.
Das mortes dos jornais,
Das mortes dos nossos pais,
Das mortes de nossas partes,
Das mortes de nossas paixões.
Daqueles pedaços da vida que se desprendem
Do desprendimento dos pedaços da vida que ainda estão presos.
Das flores que já se acham ressecadas
E delicadamente se despedem:
Não nos mantenha aprisionadas!
Medo não tenho, então, tenho saudade.
Tenho saudade.
Aquele tipo de vontade
De ser quem fui naquele tempo
Quando.
Enquanto.
Com.
E.
Ah, fazia muito sentido.
Sinto, agora, sentida,
Uma dor lá no fundo,
Dor de quem brota.
(Tive um sonho na noite passada.
Ele passeava do meu lado.
Eram dois caminhos, duas estradas.
Andávamos separados. Mas ele me convidou para ver as
Estrelas de sua janela, no topo da escada.
Não entendi ainda – estou enlutada. Mas entenderei,
Eu sei.)
Botões.
Rego as begônias,
Às vezes coloco o vaso perto da janela,
Em outras dou-lhes sombra.
Aceito os botões, sim, eu os aceito,
Um dia virá outro luto, de novo,
E mais outro, e mais outro.
E outros botões.
E, aí, então,
Farei como os redundantes azulejos azuis:
Vestirei rosa.
(sexta-feira da paixão, 2007)
Um comentário:
Era costume na Jônia
A cor negra que velava
acompanhada pela insônia
o morto que descansava.
E se ilustre o antigo vivo
tanto mais era adornado
feito ícone divino
exposto e amortalhado.
Alguns mortos eram esquecidos
já na terceira lutuosa
e outros cujo destino
causticavam toda memória.
Na Jônia era costume
esse rito milenar:
ao morto-morto, betume
ao morto-mito, adornar.
Assim aos mortos morridos
margaridas em coroas
e àqueles que não morriam
uma trança de begônias.
IF
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