Andei te procurando, ele disse.
Procurando onde? Como? Ela não havia sentido.
Sabia que iríamos nos encontrar.
Ela não sabia nada disso. Duvidava que ele soubesse. Nem tinha certeza se queria. Mesmo. Ele, ela.
A cidade de casas históricas e ruas com mais histórias ainda. Burburinho e chá da tarde, festival de cinema, sol e chuva, casamentos de viúva. Ele e ela ali, parados, numa esquina dessas que contam causos.
Custou meu namoro, ele disse com sorriso de canto de boca e picardia no olhar.
Ela não havia ouvido o início da frase. Custava quanto seu namoro? Custou lágrimas, lágrimas custam, custou para acabar, isso sim. Se fosse antes, se tivesse sido antes, eram outros os tempos verbais e os sujeitos.
Voltou para ficar?, ele perguntou.
Quê? Essas indagações são minhas e não suas. Não tinha certeza se tinha ido de fato, ou se só ensaiara ir. Não sabia se era uma pipa, que alcança o horizonte mas tem de voltar porque sua natureza de pipa não a deixa ir, ou uma nuvem, que evapora e chove em lugares diferentes. Um pássaro de vários ninhos, uma parcela de mar. Ou se ela ainda era a ela dele.
E ele a beijou. Um instante sem reação por parte dela.
E ela o beijou de volta. E estavam os dois, reencontrados, beijando-se.
A história terminou, acho.
Mas não disse.
Preciso ir.
Disse.
Na esquina dos causos, ruas com história, casarões históricos, pão de queijo, artesanato, cinema, maria-fumaça.
Espera.
Ela não sabia se tinha ouvido ou se tinha imaginado. Se ele era ele mesmo, se era outro, se era ainda, quem ele era para essa ela.
Será que vamos nos reencontrar?
Naquele dia, achou-se nuvem e não pipa. Nuvem evapora e voa. Não soube o que pensar, assim fantasiou. Lembrou-se de Clarice Lispector: por não estarem distraídos. Distraiu-se, então, distraída.
Um comentário:
Estive saboreando... Tudibom!!!
Te salvei entre meus favoritos antes que uma nuvem leve.
E pra não correr o risco, um comentário aqui tb ainda que, felizmente, vc já tenha mandado às favas o senso comum e da tecla ENTER ;)
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