quarta-feira, 20 de junho de 2007

Amigo é coisa pra se guardar

Momento de pausa na profusão ebulitiva e ebriosa de srta. Lóri Capitu.
A mocinha aqui quer homenagear uma grande amiga, amiga de fé, irmã camarada, a srta. Leoa de Noronha. Como um dos personagens de Julio Cortázar, Lóri Capitu vomita coelhinhos aos momentes, momentaneamente. Mas são fofos esses coelhinhos. E olha, eu diria, alguns deles bem jeitosinhos.

À amiga, então
VIZINHA DE CORAÇÃO


Menina sozinha tateando a parede:
Cadê minha janela?
Menina sozinha tateando o mundo:
Será que ninguém me entende?

A epifania. Miudinha, quase pífia –
por isso, imensa, intensa –
revelação de Deus
(nas palavras de Caio Fernando Abreu)
encravada no dia a dia diário
diametralmente dinamitado diante,
de antemão.
Vulgo: estado presente de espírito,
Ou hoje, ou agora, ou então.

E ela estava lá.
Entrou, não quis mais sair.
Gostou.
Pulou a janelinha, pulou amarelinha,
Veio ninar a menina sozinha:
– Não precisa mais fugir, eu estou aqui.

A menina que tateava tabitateou
Nas artes de se descobrir deixar
E, com tal descoberta, não titubeou:
Que bom que a gente vai poder
Desde sempre, a partir de então,
Daqui para frente
Partilhar.

E foram muitas e tantas e quantas
Descobertas. Ah, se foram.
Novas paisagens!
Novos personagens!
Novos cenários!
Novos itinerários!

A menina não era mais sozinha
Porque agora tinha uma vizinha
– de coração.

Foram voando até a Praia do Leão.
Usaram DVD-verso-e-fita,
Transformaram-se em mulheres de chita.
Tomaram vinho. E quentão.

Pularam sete ondinhas,
Riram juntas,
Choraram juntas,
Quando o cachorro do John Wayne mordeu uma,
Quando o sujeito histórico-ou-diegético-ou-ontológico abandonou a outra.
Quando Itamar Assumpção parou de cantar
E anjinhos com cara de palhacito não quiseram mais pousar.

Canjica, geléia de morango, pãozinho de tapioca.
Tapioca!
Sarau, cara de pau, chope black, buraco quente.
Ei, não mente!
Quantas histórias as duas arranjavam
Cada qual com seu buraco quente.

E a menina não mais sozinha
E sua do coração vizinha
Passaram a enfeitar a vida da gente
A filmar a vida fervente
Cada qual com seu olhar,
Sua câmera, seu cantar.

Se você fechar bem os olhos,
Se você ouvir a alma sussurrar
(porque o ego grita – e isso irrita),
Vai conseguir ouvir o coral das duas meninas
E amizade pura em todo o seu pulsar.
Tum, tum, tá, tá, tá.

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