sexta-feira, 30 de março de 2012

branco, escuro

(trilha sonora: http://www.youtube.com/watch?v=HhOC5D_fPto)

E no princípio era a imensidão.
De um lado, o mar dúbio. De outro, o mundo branco.


Pedaço.
Branco.
Continente.
Gelo.



O pedaço de gelo se desprega do continente branco.



O bloco compacto e plano se desprega da extensa, ampla e irregular camada de gelo. Uma decisão que pode ter durado segundos ou séculos. As pequenas rachaduras que se expandem em direção à superfície. Um ruído imperceptível. O tempo estava inerte. Não havia noite nem aurora boreal. Apenas aquele pedaço de gelo despedindo-se da inteireza branca.


(O universo era surdo ou o universo era mudo.)
O bloco. Água escura e densa, mas calma. O continente.
O bloco em movimento. Água escura e densa, mas em balanço. O continente parado, estático.
O bloco rumo à aventura. Água escura e densa, o impulso. O continente em seu lugar de sempre.
Alguns milênios na reorganização da terra, das histórias, aquele pedaço ainda era só uma frágil lâmina quando começou a se formar no seio daquela longa e contínua camada de gelo. A rachadura. A distensão. O bloco. A água densa e escura. O continente. Um decisão. Compacto e plano. Extensa, ampla e irregular. Camada. Pedaço. Fração de espaço. Todo o tempo.

Gelo. Branco. Água escura.

(O cheiro de café ainda contamina a xícara de dias sobre a mesa branca. Uma folha de papel voa para o chão. Uma folha branca.)


O bloco. O continente. Em algum lugar do globo acontece essa história: despedida. E aquele pedaço de gelo despregado da camada imensa branca. A decisão é minha: o salto. O bloco, meu barco pequeno e miúdo se ancora no bloco, as águas escuras

– escuro é o fundo da xícara há dias
– escuro é o tapete em que cai essa folha branca

milênios e milênios e agora
agora é aquele bloco solto à deriva do mundo
branco
-- oh, algo se divisa longinquamente --

solto nas águas
escuras
e eu

-- oh, as emoções das conquistas mais angustiantes --
um pequeno navio e sua âncora
no pedaço de gelo


um pedaço de gelo despregado da granda massa imensa massa branca
e no minuto 7.38 da música:
(faltam substantivos para riscos ainda não catalogados)

3 comentários:

karina disse...

Olá parabéns pelo blog! adoreii !! já estou seguindo ... se puder me segue lá tambem
http://ka-star-kaah.blogspot.com.br/
desde já agradecida .

NelsonMP disse...

Na frágil lâmina já havia a rachadura.

Água escura e quente como o cheiro do café, que há dias está agindo no ambiente.

o Bloco = a Individuação
o Barco = a Consciencia

NelsonMP disse...

O barco humilde se ancora no bloco de gelo.
Um tipo de entrega em meio às águas escuras.

....

A folha branca cai no chão, no momento do choque do imenso barco, com o bloco gigantesco.

A partir daí, "ancorar" o navio no iceberg poderia ser a única solução para o Titanic.

Talvez o Iceberg tivesse a cura para aquele "mal". Se ele fosse rapidamente investigado, iluminado, e encontrassem nele uma plataforma, um bom espaço para o desembarque, então, a maior parte daquelas vidas teriam sido poupadas.