Eles tinham o mesmo nome, ela os havia conhecido no mesmo lugar, eles eram algo como bons colegas, eles tinham gostos diferentes, a cor de seus olhos – dos três – era quase a mesma, eles até se pareciam fisicamente, um era mais alto, o outro era mais sorridente, ambos tinham fios prateados nas barbas e nos cabelos castanhos, um preferia a celebração, o outro a melancolia, os dois despertavam nela afetos diversos, fantasias alucinantes, medos-verrugas, suores contidos. Eles, aos poucos, cada um a seu modo, um mais elegante, o outro bem mais desajeitado, ambos um pouco tensos, aprendiam a cumprimentá-la com um abraço, um olhar e reticências em frases curtas, que aparentemente eram definitivas e derradeiras. Ela suspirava por ambos, às vezes mais por um, às vezes mais pelo outro, eles a confundiam, ela os confundia, os três não assimilavam nada mais além de rápidos e sinceros “não sei” ditos sem pensar. Ela e um deles eram improváveis juntos, ela e um deles eram mais que viáveis juntos, mas os três se assustavam com qualquer uma das possibilidades. Eles percorriam esquinas diferentes, mas escolhiam curvas parecidas, faziam passeios na mesma cidade impressionante que pertencia aos três e não havia parido nenhum deles. Ela vinha de longe, mas eles tinham a mesma nacionalidade, ela não sabia se também a mesma natureza, um deles havia confessado sua atração e sua inviabilidade, o outro tinha reafirmado sua rejeição e sua inviabilidade, ela já não sabia se os rejeitava, se os atraía, se os impossibilitava para si mesma, se eles se inventavam obstáculos. Melhor continuar sem saber de nada, melhor apagar esses nomes sinônimos, esses sentimentos por tanto tempo também sinônimos, melhor evitar esses caminhos que se cruzam, melhor pintar os olhos de azul, os sorrisos de cinza, os sentimentos de gelo. Melhor encher o copo de vinho e virar uma vez, ou duas, ou três, ou mais. Talvez, muitos horizontes depois, quando ela estiver num navio largado em algum dos oceanos do imenso planeta e se virar para trás, apenas para ajeitar os cabelos revirados pelo vento, cruze seu olhar com o olhar de um deles, com aquele seguiu as estrelas e deixou os cadarços para trás. Ou talvez o dono daquele olhar não seja nenhum deles, seja um outro, homônimo, com a mesma cor dos olhos, com um pouco de alegria, com um pouco de melancolia, menos tenso, menos precavido, menos impossível. Coincidência, destino, pouco importará. Ela com eles, ela sem eles, no fim das contas ela intuirá que estarão só ela e ele, aquele ele e aquela ela – os verdadeiros eles. E aquele nome tão repetido, tão repetitivo nem fará mais sentido.
Ela era a mulher da saia rodada e florida, do sorriso no rosto, do belo buquê de gérberas cor de rosa nas mãos em pleno lusco-fusco. Era ela.
domingo, 23 de janeiro de 2011
eles eles eles e ela?
Eles tinham o mesmo nome, ela os havia conhecido no mesmo lugar, eles eram algo como bons colegas, eles tinham gostos diferentes, a cor de seus olhos – dos três – era quase a mesma, eles até se pareciam fisicamente, um era mais alto, o outro era mais sorridente, ambos tinham fios prateados nas barbas e nos cabelos castanhos, um preferia a celebração, o outro a melancolia, os dois despertavam nela afetos diversos, fantasias alucinantes, medos-verrugas, suores contidos. Eles, aos poucos, cada um a seu modo, um mais elegante, o outro bem mais desajeitado, ambos um pouco tensos, aprendiam a cumprimentá-la com um abraço, um olhar e reticências em frases curtas, que aparentemente eram definitivas e derradeiras. Ela suspirava por ambos, às vezes mais por um, às vezes mais pelo outro, eles a confundiam, ela os confundia, os três não assimilavam nada mais além de rápidos e sinceros “não sei” ditos sem pensar. Ela e um deles eram improváveis juntos, ela e um deles eram mais que viáveis juntos, mas os três se assustavam com qualquer uma das possibilidades. Eles percorriam esquinas diferentes, mas escolhiam curvas parecidas, faziam passeios na mesma cidade impressionante que pertencia aos três e não havia parido nenhum deles. Ela vinha de longe, mas eles tinham a mesma nacionalidade, ela não sabia se também a mesma natureza, um deles havia confessado sua atração e sua inviabilidade, o outro tinha reafirmado sua rejeição e sua inviabilidade, ela já não sabia se os rejeitava, se os atraía, se os impossibilitava para si mesma, se eles se inventavam obstáculos. Melhor continuar sem saber de nada, melhor apagar esses nomes sinônimos, esses sentimentos por tanto tempo também sinônimos, melhor evitar esses caminhos que se cruzam, melhor pintar os olhos de azul, os sorrisos de cinza, os sentimentos de gelo. Melhor encher o copo de vinho e virar uma vez, ou duas, ou três, ou mais. Talvez, muitos horizontes depois, quando ela estiver num navio largado em algum dos oceanos do imenso planeta e se virar para trás, apenas para ajeitar os cabelos revirados pelo vento, cruze seu olhar com o olhar de um deles, com aquele seguiu as estrelas e deixou os cadarços para trás. Ou talvez o dono daquele olhar não seja nenhum deles, seja um outro, homônimo, com a mesma cor dos olhos, com um pouco de alegria, com um pouco de melancolia, menos tenso, menos precavido, menos impossível. Coincidência, destino, pouco importará. Ela com eles, ela sem eles, no fim das contas ela intuirá que estarão só ela e ele, aquele ele e aquela ela – os verdadeiros eles. E aquele nome tão repetido, tão repetitivo nem fará mais sentido.
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Um comentário:
Oie, Lindo seus posts! Seguindo, certo?!
Passa la no meuu, e se gostar me seguee, beijoo =**
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