A que quando pertencia?, era a pergunta que mais lhe fazia companhia quando abria os olhos de manhã, ainda atordoada pelo último sonho, nem sempre estacionado na última estação. Quando exatamente vivia? Porque, vez ou outra, tinha a impressão de que não existia, embora estivesse viva, corada e suada. Seu agora era povoado de novidades e antiguidades, emoções diversas, sensações e indagações. Mas provava em lampejos o sempre e, como que descompassada, se perdia em lapsos e labirintos invisíveis, pequeninos, indimensionáveis (se é que a palavra se pode). Por isso, sentia-se perdida. Mas também bem encontrada.
"Só há texto e só há existência no 'agora'. O 'antes' e o 'depois' inexistem para o 'agora'. (...) Só no sempre todos os 'antes' e todos os 'depois' são alcançáveis, porque não há 'agora'. O sonho de retornar ao passado ou ao futuro só seria possível abrindo mão do 'agora', ou seja, deixando de existir."
Nilton Bonder, Sobre Deus e o Sempre
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