Eu ficava encontrando novos modos de me despedir de você, embora não os buscasse. Como se todas essas palavras ou esses tons de voz já estivessem cá dentro, querendo urgentemente sair.
Não me importava não nos reconhecer de pronto. A mim, a você. Sou adicta da mudança, do movimento, creio no leva-e-traz das ondas da vida. Seu sorriso, seu afeto. Você me preparou uma redoma linda e terna, aconchegante e arejada: mas redoma.
Eu ficava me deparando com posturas minhas em desuso, como se os pacotes de roupas velhas e apertadas voltassem inesperadamente aos meus armários. Você os jogava aqui dentro, de novo. Você queria me reconhecer de todos os jeitos, me devolver os fios de cabelo já perdidos, queria recuperar uma face minha que antes lhe era tão familiar. Nos doíamos, então, pelo improvável da situação. Eu me sentia mutilada. Você... lhe dilacerava o abandono.
Quem somos hoje?
Você me cercava de todos os jeitos – absorvendo meus amigos, os mais próximos, os menos próximos, como se sugasse deles o sangue que queria ter de mim. Você tentava reaproximar-se com pequenos caramelos displicentemente postos num caminho, no seu caminho, nos ladrilhos que me levariam a você. Quando virei para outro lado, o susto, a incompreensão, a mortificação.
Hoje, não sei, não tenho respostas.
Você está onde esteve sempre e nesse lugar não estou eu – já faz tempo.
Eu ando em dimensões impalpáveis de mim mesma e, mesmo que você não tivesse tanto apego, talvez não conseguisse me alcançar por lá. Porque esse espaço é muito íntimo e muito particular, uma necessidade muito minha, que quase você não entendia.
Eu ficava desenhando maneiras de lhe dizer tudo isso com a melhor voz e o jeito mais doce, porém as mensagens ganham vida à nossa revelia. E então, e então.
(Desculpe, sujei de barro a beiradinha da calçada.)
2 comentários:
a gente nunca tem as respostas, moça. a vida é assim mesmo e não há quase nada ou muito pouco que a gente possa fazer pra mudar isso. e então, e então...
Por que você saiu do ar? Onde estão os blogs?
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