Você tinha um lado da barba mais denso que o outro, o que me encantava. Às vezes, os cílios longos desviavam minha atenção de seus olhos cor de mel que se enchiam de lágrimas em momentos surpreendentes. Eu pensava que ia sair por aquela porta na segunda vez em que você fosse rude comigo, mas estou aqui até hoje. Porque sua rudeza é igual à birra tardia, tardia, de um menino que aprendeu a doer e a sofrer muito cedo. E sei que você ficava com muito medo de soltar o fio que me prendia à gravidade terrestre, por isso me chacoalhava de tempos em tempos, em alguns momentos com força demais. Eu tinha medo de te quebrar em pedaços assimétricos com meu abraço, porque você sempre me pareceu demasiado frágil. E achava estranho dormir abraçada com você, ainda mais porque eu é que devia te abraçar e não você a mim. Assim mesmo, com tudo esquisito, continuei aqui. Eu nunca tive a menor idéia do que você pensava a meu respeito, se gostava de mim ou não, porém todos os outros ouviam você falar a meu respeito. E falava bem, embora às vezes usasse adjetivos agressivos quando estava bravo (não comigo, ou não só comigo, mas com a vida). Para você, eu não era nada de mais em partes, mas meu todo se tornava imprescindível. Com você, eu não tinha certeza de nada, nem de quem eu podia virar no minuto seguinte ou se ia ter fome na hora de jantar. Sem você, eu poderia voltar à rotina de sempre e diminuir até caber na roupa de novo.
A gente mal sabia um do outro e já conhecia tanto, tanto. Não sei que final tem essa história, se já o teve, nem por que a conto, porém acho que desenvolvi um tipo de gostar que desapega até do momento da própria história. Se foi, se vai ser, se é... Continuo aqui, nesse gostar. E ouço sua voz, mesmo quando você nada diz. E se não dirá.
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