Eram duas vidas cruzadas ali por puro mistério. Um pouco pálidos, talvez pela solenidade do enlace, mas os batimentos acelerados revelavam que seus corações andavam corados. E ali, naquele momento, entre “A Whiter Shade of Pale”, o buquê de rosas e eles, esse ritmo róseo era o que realmente importava.
Um dia, ele partiu. Não foi repentino: a separação provocou a mesma dor da união, posto que desencaixe do encaixe. Tudo seguia muito simples, sem qualquer ostentação, e todos os presentes olhavam para frente. Não houve música naquele dia, os ventos mineiros espalharam as folhas secas por cima da laje de mármore da família e espantavam as borboletas. Ambos estavam pálidos de verdade. Ela, pelo impacto da ausência. Ele, pela partida irremediável.
As cores sempre voltam a seus sabores. E, graças a esses dois mundos, estou aqui – um universo largo e difuso, mas belo pela própria natureza de universo humano.
E, se hoje passa uma nuvem muito grande e pesada sobre mim e sob o sol, acato a necessidade da pausa, da solidão e da transformação. Uma breve sombra pálida que não tira meu rosado, mas o realça: a novidade, como diz o genial Rilke, passa ao sangue depois de ter sido solenemente absorvida pelos intestinos e interstícios do ser naquele período pesado de tristeza e de paralisia momentânea diante da vida.
Fui gerada assim também: num instante pálido, como uma novidade, gestada no silêncio sôfrego das indefinições e brindada ao mundo por meio de sangue, placenta e amor.
E cá estou, pois. Estamos.
Bem-vinda, novidade. A seu lar que sou eu.