Ao doce Q., querido, querido
Quando o olhei de perfil, imediatamente notei os cílios longos e escuros. Um homem de cílios longos. Embora no início dos seus 20 anos, é surpreendentemente maduro. Podia ser rapaz, um rapaz de cílios longos, mas jamais garoto, como muitos que ainda engatinham no aprendizado da apreensão do mundo e das pessoas.
Já sinto saudade desses cílios longos, que acariciam o mundo que os olhos enxergam. Mundo de opressão, mundo de ocupação, mundo de conflito, mundo de dilemas e problemas. Mas os cílios.
Esses cílios seus.
Observo os detalhes, os dentes que escapam da arcada, conferindo charme ao sorriso largo e sincero. Os ombros estreitos, os braços finos. Cigarro. Algum gel no cabelo liso e negro. Como os olhos, as sombrancelhas, os começos de barba. Ah, esses cílios longos, esse sorriso.
Estou no início de minha navegação. Ilha Desconhecida ainda ensaia suas despedidas da baía primeira, embora já em alto mar, trata-se apenas do começo. Coração muito elástico de desejos e sonhos, mas miudinho pelo início do parto de mim mesma. Sem expectativas quanto a, pois o tempo é curto e o movimento, necessário. Mas a epifania.
O sorriso.
E os cílios longos.
Quebrando regras e muros, os dois.
Conexão imediata. Meus olhos estavam num outro olhar, na verdade, olhar cor de mel na tez morena. Enigmático esse. Porém, foram os olhos de cílios longos que me acharam e fizeram cócegas no meu olhar a fim de chamar-lhe a atenção. E meus olhos curiosos, lacrimosos naquele dia por tantas sentimentalidades, ficaram encantados.
E aqui estou eu, uma década de vida na frente, mas tão presente nesses olhos de cílios lindos e longos que confortam, acariciam e me reconhecem como uma pessoa -- inteira, faceira e primeira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário