sexta-feira, 7 de maio de 2010

#meufilme

Queimo, queimo meu filme, sim, queimo meu filme ainda que meus vídeos sejam digitais e minha câmera registre tudo no HD. Queimo, queimo meu filme, sim, por você não suportar me ouvir falar de profundidades quando sua expectativa comigo era discutir política. A dos outros, não a nossa: fronteiras, muros, bombas, sanções, seu conselho de segurança nega a veracidade dos argumentos de meu sentimento-premiê...

Queimo meu filme, falo de mim, me exponho cruamente no abracadabra de seus desejos ocultos, sou como um vírus de hardware, você me deleta de seus sentimentos e eu sigo avançando por seu corpo adentro até que, insolente, estupefato, suado e confuso, você chegue até minha porta e grite:

Queimo meu filme, queimo sim, falando daquele outro, dos outros, de todos os outros que amei e que hoje contam pedaços da minha história. Queimo meu filme assumindo que me apaixonei por outro enquanto você não me dava bola, que me apaixono por outro enquanto você não me dá bola, que seguirei me apaixonando por outro mesmo que sua condição sine qua non para me dar bola seja justamente minha ausência de gols. No outro. Nos adversários. Ora, não há adversários...

Queimo, queimo ardorosamente meu filme ao me rasgar virtualmente para você do modo mais singelo e honesto que um “@”, que um “.com.br”, que um tweet podem fazer. Mas você não me lê – ou finge, porque está todo dia ciscando no meu blog atrás de minhas pegadas, dos rastros que deixo, das migalhas de verdades ofuscadas por delírios infinitos e tão sinceros. Sei que você busca me entender.

Queimo meu filme me queimando por dentro querendo lhe dizer que é você você você você e nada mais. Mas queimo meu filme dizendo alto que eu quero um monte monte monte monte de coisas, que não você.

Queimo meu filme como se lhe dissesse: por favor, me esqueça, me deixe, me ignore, me desdenhe, me evite, me chame de “spam”. Queimo meu filme fingindo que não sei o que você espera de mim. Mas eu não sei mesmo.

No fundo, quem queima o filme é você.

Porque não quer que eu o decepcione.
Porque no fundo não quer que eu o decepcione.
Porque minhas profundidades são insuportáveis e eu não consigo simplesmente tomar sorvete e deixar por isso mesmo.

Porque eu não preciso da TV pública para gritar publicamente que faço de meu bem-querer bem público – para e por você.

Queimo meu filme porque 8mm são insuficientes para tudo o que eu poderia lhe fazer sentir. Hoje, baixam-se sentimentozinhos e vínculos em downloads insossos, isso pode lhe parecer mais prático e mais indolor... Você é um blockbuster nominado ao Oscar, enquanto eu sou uma proposta alternativa de cineclube vespertino numa sala abafada e escondida no centro da cidade.

Por isso, queimo meu filme. Só para lhe fazer fumaça.

Um comentário:

NelsonMP disse...

Queimando... queimando.... queimando.....
..é uma purificação do amor pessoal para o Amor impessoal.