Mais uma xícara de café, entre cadernos de notas, canetas sem tampa, fios e cabos USB, livros abertos, brincos usados em dias anteriores, bilhetinhos diversos, aquelas incômodas cartas de banco. Mais uma xícara de café com o fundo borrado, ressecado, uma xícara a olhar a mulher descabelada, com roupa de casa, suspiros fundos e ideias confusas que brotavam aos borbotões, mas não saíam. Era uma prisão de ventre mental, ou o quê? Culpava a inspiração, culpava o cano de saída das ideias da cabeça, culpava seu desalento emocional, o barulho da rua, cidade ruidosa essa, descobria-se hiperativa, descobria-se com a síndrome da distração não sei o quê, talvez por não descobrir-se continuava coberta de medos e receios e nada acontecia na tela vazia do computador cansado. O computador estava cansado e seus teclados já se encontravam gastos. Estamos aqui, disponíveis, minha senhora. Mais uma xícara de café, o líquido borbulhante, o sabor único, encorpado, forte. A experiência única, encorpada, no corpo dela, forte, presente. Por que não começar daí? A literatura era a única salvação, era, não era? Tantas histórias impressas em seu corpo, em sua memória, em suas emoções. Era o casulo da escrita, era a escrita, a literatura, a salvação, a metamorfose! Rilke ensinava: “confesse a si mesmo: morreria se lhe fosse vedado escrever? (...) Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples ‘sou’, então construa a sua vida de acordo com essa necessidade”. Viver para contar, como havia dito Gabriel Garcia Márquez. Não via outro sentido. Então, por quê? Por que o fluxo se encontrava emperrado em algum ponto? Por que condenava a si própria, em sua volúpia de escritora, por que vetava de antemão o que estava a ponto de explodir?
Silêncio.
Silêncio passivo. E escuta.
Silêncio ativo. E escuta.
Sozinha e desamparada.
A maior solidão da existência. A própria existência como solidão.
Tinha medo.
E assim começou, de forma inexorável e inevitável, sem volta ou sem perdão, seu romance.
3 comentários:
Silêncio ativo, aspiração, paixão, perseverança, aceitação, não expectativa, entrega: ajudam a melhorar o circuito céu-terra no nosso ser. Com essa base energética, podemos caminhar com menos desvios, em direção ao próposito. O resto é matéria prima variável, ajustável, substituível, reciclável, contornável, dispensável, imprescindível, etc. Compromisso fiel com desapego profundo, garantem ao longo do tempo: leveza e luminosidade.
o medo está na paradinha excessiva do batedor que assim mata a intuição certeira
caraca
mto bom textos, textos, e afins
parabens pelo blog
http://chardiebatista.blogspot.com/
qdo der de uma suspirada por lah rsss
abração !!!
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