Há anos tenho me apaixonado por paredes. Paredes altas, paredes magras, paredes em geral morenas, umas mais simpáticas, outras meio carrancudas, parede disfarçada de muretinha, uns muros nada-a-ver, paredes duras, paredes de várias texturas e profundidades. Sempre paredes machas ou masculinas, minha grande maldição.
Me apaixono, me encanto, me desfaço – e as paredes lá, impassíveis, impossíveis, inevitáveis em sua condição de paredes. Mudas. Surdas. Insensatas e frias. Insolúveis.
Anos e anos de tentativas inúteis de conquistar uma parede me fizeram verborrágica (detesto os contos de fada em que o sapo vira príncipe, porque uma parede jamais vira príncipe ou rei, paredes são sempre carrascos. Carrascos surdos). Verborrágica, prolixa, quase histérica, falando, falando muito, falando demais, falando o que não devia, declarando-me declaradamente declarada não-calada. Por quase todos os meios possíveis – escritos, principalmente. Com quase todo o vocabulário afetivo que me permito usar. Em quase todos os tons especiais que conheço. Reconhecendo-me fêmea, feminina, feliz, felina, fera, ferida, fetiche, fechadura, ainda que as unhas às vezes estejam manchadas de esmalte velho ou o cabelo, arrepiado de indecisão. Parede, adorei te conhecer. Parede, eu te quero bem. Parede, você é uma pequena epifania. Parede, quer tomar um café comigo? Parede, gosto de sua poesia. Parede, queria te ver de novo. Parede, eu tenho tanto pra lhe falar... Parede, . Parede, ? Pa? Re? De?
Paredão. Paredões.
Anos e anos de tentativas inúteis diante das paredes de todo o mundo – não podem me acusar de não haver tentado até paredes internacionais! – me transformaram numa... parede. Paredona. Parede refratária, um tanto desiludida, meio descuidada, agora habituada a despejar logo de cara tudo quanto é verborragia possível para ficar cansada rapidinho e demolir o paredão da vez do meu coração. Parede cada vez mais intransponível. Parede invisível. Parede com sonhos de virar montanha e se jogar no mar. Parede com vontade de renascer borboleta, minhoca, leoa, begônia, nuvem, qualquer ser que interaja com o universo. E com vontade de encontrar uma borboleta-macho, uma minhoca-macho, um leão, uma begônia-macho, uma nuvem-macho com quem possa interagir.
Me apaixono, me encanto, me desfaço – e as paredes lá, impassíveis, impossíveis, inevitáveis em sua condição de paredes. Mudas. Surdas. Insensatas e frias. Insolúveis.
Anos e anos de tentativas inúteis de conquistar uma parede me fizeram verborrágica (detesto os contos de fada em que o sapo vira príncipe, porque uma parede jamais vira príncipe ou rei, paredes são sempre carrascos. Carrascos surdos). Verborrágica, prolixa, quase histérica, falando, falando muito, falando demais, falando o que não devia, declarando-me declaradamente declarada não-calada. Por quase todos os meios possíveis – escritos, principalmente. Com quase todo o vocabulário afetivo que me permito usar. Em quase todos os tons especiais que conheço. Reconhecendo-me fêmea, feminina, feliz, felina, fera, ferida, fetiche, fechadura, ainda que as unhas às vezes estejam manchadas de esmalte velho ou o cabelo, arrepiado de indecisão. Parede, adorei te conhecer. Parede, eu te quero bem. Parede, você é uma pequena epifania. Parede, quer tomar um café comigo? Parede, gosto de sua poesia. Parede, queria te ver de novo. Parede, eu tenho tanto pra lhe falar... Parede, . Parede, ? Pa? Re? De?
Paredão. Paredões.
Anos e anos de tentativas inúteis diante das paredes de todo o mundo – não podem me acusar de não haver tentado até paredes internacionais! – me transformaram numa... parede. Paredona. Parede refratária, um tanto desiludida, meio descuidada, agora habituada a despejar logo de cara tudo quanto é verborragia possível para ficar cansada rapidinho e demolir o paredão da vez do meu coração. Parede cada vez mais intransponível. Parede invisível. Parede com sonhos de virar montanha e se jogar no mar. Parede com vontade de renascer borboleta, minhoca, leoa, begônia, nuvem, qualquer ser que interaja com o universo. E com vontade de encontrar uma borboleta-macho, uma minhoca-macho, um leão, uma begônia-macho, uma nuvem-macho com quem possa interagir.
Falar, mas ouvir. Ouvir mais que falar.
(Parece inacreditável esse sonho).
Hoje mesmo comecei a demolir um paredão, que era até gentil. Porém, como de hábito, um paredão de outros mapas, geografias, censos e populações, que tinha janelas e jardins. Mas, claro, não para mim.
(Parece inacreditável esse sonho).
Hoje mesmo comecei a demolir um paredão, que era até gentil. Porém, como de hábito, um paredão de outros mapas, geografias, censos e populações, que tinha janelas e jardins. Mas, claro, não para mim.
Continuarei parada.
Tal e qual parede embalsamada...
5 comentários:
Olha só os que as paredes fazem, mais paredes...
Seu texto foi simplismente demais, não demais é pouco, foi tão bom que é imensurável, mas sei que pode sair um tão bom quanto esse quando você encontrar uma borbolera-macho ou uma minhoca-macho ou até mesmo um leão...
Abraços.
Lindo esse seu blog, descobri-o e ou voltar a visita-lo.
Sim, você já aprofundou bastante este caminho das paixões que dão em paredes.
A próximo nível de desenvolvimento, costuma ser o das paixões que terminam no vazio ou no Nada.
..cada paixão é um degrau de devoção que nos faz subir em direção ao supremo. Cada paixão, na sua natureza viva, transporta homeopaticamente algo daquilo que é a verdadeira União.
Enquanto degrau é ilusão, enquanto caminho é ascensão. Mais adiante ela se transforma em Adoração.
Há duas afirmações que são complementares: "quem espera nunca alcança" + "quem não aspira nunca alcança"; uma sem a outra não funciona.
No fundo o que buscamos é a restauração da Aliança.
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