Ela era a mulher da saia rodada e florida, do sorriso no rosto, do belo buquê de gérberas cor de rosa nas mãos em pleno lusco-fusco. Era ela.
domingo, 19 de julho de 2009
Dora
O dito se referia ao espelho, mas Dora suspirou ao recolher os cacos do cristal estatelado, estatelado como suas últimas esperanças. Sete anos de alguma coisa – azar, sorte, felicidade, tristeza, angústia, stress – era muito tempo. Preferia pensar em sete minutos, tempo não tão rápido como os segundos nem tão longo como as décadas. Os cacos, o cristal, o chão, a janela, o telefone, o lixo, a privada, o armário, a escrivaninha, os cacos de novo. Era quase manhã, mas ainda estava escuro dentro de Dora. A Dora, a Dora de agora, a Dora que adora hora, a Dora que demora, a Dora que ignora, a Dora que chora, chora muito a Dora, a Dora senhora de seus cravos – as flores – e de suas sardas – discretas –, a Dora que levou um fora. E a taça, presente inclemente, estraçalhada como suas últimas esperanças, pois sim. O dito se refere ao espelho, Dora. E ele, neste momento, te olha. Sim. A palavra é esta: embora.
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