Ela era a mulher da saia rodada e florida, do sorriso no rosto, do belo buquê de gérberas cor de rosa nas mãos em pleno lusco-fusco. Era ela.
terça-feira, 19 de maio de 2009
pequenina historieta de amor miúdo
Airam, quando se deu conta, percebeu-se com um sentimento de que estava do avesso e já fazia um bom tempo. Não só do avesso, como também numa fauna à qual pertencia em parte. Airam carregava nos grandes olhos e no coração a estranheza daqueles que constatam pensamentos largos e solenes muito cedo. O que fazer com aquilo tudo, perguntou-se, logo no início. Depois, aos pouquinhos, aprendeu a evaporar os excessos e a condensar os pormenores sem que nada fosse a mais do que realmente era. Viver era complicado, porém lhe fascinava. Não havia como desvirar Airam e fazê-la como todas as outras mulheres, pois seu avesso já lhe combinava e era habitual, e naturalmente um lugar no mundo havia surgido um tanto aos trancos, outras vezes aos prantos, de tanto que Airam se movia. Aliás, a inquietude dela não encontrava mais limites e o engraçado é que a realidade, em todas as suas contradições, parecia mimá-la – ou, talvez, reforçar seus disparates tão saudáveis. E assim, um tanto torta e um tanto endireitada, avessa a mecanismos enferrujados e padrões vendidos em sacos etiquetados e cristalizados, porém desde sempre do avesso, Airam suspirou tão fundo e decidiu prestar a atenção no universo ainda mais minúsculo de bem-quereres a fim de, quem sabe, fazer coincidir seus grandes olhos e seu coração com os de um possível companheiro passível de aceitá-la em toda a sua incongruência e esplendor de humana. Pois assim, quem sabe, novas outroras plenas de auroras seriam geradas e semeadas.
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