1.
Terminei a leitura de “Na Praia”, de Ian McEwan, e de “Jerusalém”, de Gonçalo M. Tavares. Gostei de ambos. McEwan escreve um livro classudo, apoiado em digressões e no delineamento dos personagens, sem no entanto dissecar suas emoções explicitamente (mas acho que, talvez por isso, ele consiga criar uma linha tênue entre o micro e o macro, o particular e o universal). Seu estilo segue refinado e polido. E eu chorei no terço final. Fiquei com um baita nó na garganta e daí para as lágrimas foi bem fácil. Florence e Edward – seja outra a década, seja outro o século, outra a relação com o sexo e outras as questões íntimas que criam grumos nas relações amorosas, eles estão vivos e respiram. Posso ser Florence (com as ressalvas acima).
Gonçalo, por sua vez, enche sua história de frescor estilístico e temático e elabora uma bela, pungente e espinhosa metáfora de nossos tempos. Não sei a intenção do escritor ao chamar o livro de Jerusalém, mas a associação ficou deveras clara para mim, eu que estive lá e passei do encantamento à decepção, engolindo abruptamente cada uma das contradições dessa cidade única. Hipócrita e santa, desejada e repugnante, bela e dolorida. Jerusalém-cidade como emblema do mundo, como metáfora do mundo. Jerusalém-livro como metáfora de Jerusalém-cidade, como síntese do mundo.
2.
Essa vem de Ian McEwan, em “Na Praia” (On Chesil Beach), parece que pensando em mim. Quem fala é Edward. Podia ser o moço que hoje vive em Túnis. Ou aquele de Istambul. Ou o de Belém. Ou, então, o da Cidade do México. Ou o de Viña del Mar. Ou o de São Paulo, o que mora(va) no Brás. Não importa, qualquer um.
“Quando pensava nela, parecia-lhe surpreendente que tivesse deixado aquela garota com seu violino ir embora. (...) Tudo o que ela precisava era da certeza do amor dele, e de sua garantia de que não havia pressa, pois tinham a vida pela frente. Amor e paciência –se pelo menos ele tivesse conhecido ambos ao mesmo tempo – certamente os teriam ajudado a vencer as dificuldades.”
Eu me emociono muito com esse trecho. Demais.
Não me lembro de ter ouvido meu nome quando me virei para ir embora, afastando-me numa tentativa de me aproximar.
“Na praia de Chesil, ele poderia ter gritado o nome de Florence, poderia ter ido atrás dela. Ele não sabia, ou não teria querido saber, que, enquanto ela fugia, certa na sua dor de que o estava perdendo, nunca o amara tanto, o mais desesperadamente, e que o som da voz dele teria sido seu resgate, e que ela teria voltado atrás.”
Talvez seja o sinal.
Quando eu ouvir meu nome, na praia de Chesil.
Um comentário:
Fiquei aqui pensando.
O que é ser Mafê?
Se nasce Mafé, se cresce Mafê e se floresce Mafê!
Se fortalece Mafê!
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