Não sei por que a vida está me levando para esses cantos do mundo,
mas trata-se de um encanto que canto,
toques de suave pranto,
com sublime energia e fé.
Eu já não volto,
porque volto outra.
Outra que já sou mas serei mais,
Acrescentada de novos ares, demais.
Serena na minha inquietude
Quieta no deserto pacífico de minhas buscas
Viva em Mar Morto, móvel em Petra
E quando eu também vir Ramallah.
Ela era a mulher da saia rodada e florida, do sorriso no rosto, do belo buquê de gérberas cor de rosa nas mãos em pleno lusco-fusco. Era ela.
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Vertigem
Entre tosses tosses tosses
coff coff coff coff
Me pergunto onde estou, para onde vou
Faz tempo que não entendo nada.
Alguém me chama de "voc"
-- O "ê" engolido com o atchim
Ou o jasmim de versinhos vespertinos
(Não assumidos, postados de madrugada)
Sem ar, três quartos de mim, bamba no eixo sem corda
Rodando, rodando, rodando
Zumm Zumm Zumm Zumm
Tudo troca de lugar enquanto eu troco de mundo
(ou de país, ou de cidade, ou de otredad)
Me dizem coisas bonitas e sinceras,
a todo o tempo, agora escuto.
Escuto, sim, mas não posso olhar
Porque tudo gira gira gira sem parar
Uuuou Uuuou Uuuou
Embaralhei até minha consciência.
Quem mesmo?
Sonha comigo, vai, ao seu lado na cama.
Sonhei foi com o outro.
... sentia dor e ganhei abraço.
Temo estar adicta de epifanias
!!! !!! !!!
Explosões! Explosões! Explosões!
E não suportar mais o cotidiano diário do dia a dia
Tão ensimesmado quanto um peixe beta em seu aquário espelhado.
Preocupação a médio prazo,
Então vamos, por ora, tomar xarope e chá de pólem.
Tenho medo de morrer de tédio.
Atchim!
coff coff coff coff
Me pergunto onde estou, para onde vou
Faz tempo que não entendo nada.
Alguém me chama de "voc"
-- O "ê" engolido com o atchim
Ou o jasmim de versinhos vespertinos
(Não assumidos, postados de madrugada)
Sem ar, três quartos de mim, bamba no eixo sem corda
Rodando, rodando, rodando
Zumm Zumm Zumm Zumm
Tudo troca de lugar enquanto eu troco de mundo
(ou de país, ou de cidade, ou de otredad)
Me dizem coisas bonitas e sinceras,
a todo o tempo, agora escuto.
Escuto, sim, mas não posso olhar
Porque tudo gira gira gira sem parar
Uuuou Uuuou Uuuou
Embaralhei até minha consciência.
Quem mesmo?
Sonha comigo, vai, ao seu lado na cama.
Sonhei foi com o outro.
... sentia dor e ganhei abraço.
Temo estar adicta de epifanias
!!! !!! !!!
Explosões! Explosões! Explosões!
E não suportar mais o cotidiano diário do dia a dia
Tão ensimesmado quanto um peixe beta em seu aquário espelhado.
Preocupação a médio prazo,
Então vamos, por ora, tomar xarope e chá de pólem.
Tenho medo de morrer de tédio.
Atchim!
domingo, 7 de outubro de 2007
Hoje me despedi de um tio da infância.
Houve roupas de cor preta, choros, orações e velas. Houve reencontro de laços e muitos abraços.
Somos finitos. E a finitude às vezes desespera porque inexata. Não a creio insensata, mas admiti-la revolve o fundo dos fundos e deixa a água turva, turva de verdade.
Hoje fiquei ainda mais longe da infância. E de meu tio, cujos contornos repousavam serenos acompanhados por flores e véus. Vestia o terno do casamento, tio viúvo, porque da tia já havia me despedido faz tempo, levava sua vara de pescar e seu chaveiro do São Paulo. Hoje me lembrei, novamente, de que não só os tios envelhecem. Eu também envelheço. Não sou mais a menina daquela infância povoada de tios. Parte da areia da minha própria ampulheta já mudou de lado.
Pouco a pouco, os tios vão se despedindo. Outros tios da infância se foram antes, e sei, com aperto no coração e olhos nada enxutos, que outros, os outros todos irão. Sinto saudade dos tios todos e saudade da memória que eu tinha com os tios.
Sinto saudade do meu pai.
Por que dói tanto a despedida? Com ou sem fé, por que dói?
De tempos em tempos, a finitude vem nos recordar de que deixamos muitas coisas para depois. Que, por motivos frouxos e roxos, não dizemos "eu te amo", "me desculpe", "eu preciso de você", "te perdôo" na hora certa. Colocamos baterias incansáveis nos relógios com a doce enganação de que eles nunca vão parar de funcionar. Eles talvez não. Nós... nós sim.
A finitude nos pergunta: a quantas anda sua existência?
Minha resposta me acalmou.
Hoje, quando me despedi de meus tios, revi meus primos de segundo grau, filhos dos primos que são os filhos dos tios. E pensei que, um dia, talvez os filhos dos primos se lembrem de sua infância povoada de primos-tios. E eu esteja entre eles, sobrevivendo nas recordações, em instantes fugidios, em breves flashes de sorrisos e carinhos.
Vi minha mãe caminhando pelas veredas.
Vi irmão, cunhada, outros tios, primos, filhos de primos caminhando pelas veredas.
Imaginei todos meus conhecidos e amigos e queridos caminhando pelas veredas.
E, mais que a despedida do tio, talvez o que realmente doeu hoje tenha sido a aceitação do exercício do desapego. Senti saudade por antecipação.
Senti vontade de cabê-los todos no meu abraço, num grande abraço carinhoso. Senti vontade de que partilhássemos ainda muitos e muitos momentos.
É a vida que me emociona, no fim das contas.
É a vida de cada instante de carinho, de cada pequena disponibilidade, de cada oportunidade de partilha, de cada poema colhido junto no mundo -- que quantas vezes deixamos escapar, meu Deus, por motivos bestas.
Não temos tempo.
Não temos dinheiro.
Não temos paciência.
Não temos compreensão.
Não temos coragem.
Nos falta sensibilidade.
Nos falta atenção.
Nos falta disponibilidade.
Nos faltam veredas para caminhar.
Infinito enquanto dure. Mas somos finitos, não custa recordar.
Houve roupas de cor preta, choros, orações e velas. Houve reencontro de laços e muitos abraços.
Somos finitos. E a finitude às vezes desespera porque inexata. Não a creio insensata, mas admiti-la revolve o fundo dos fundos e deixa a água turva, turva de verdade.
Hoje fiquei ainda mais longe da infância. E de meu tio, cujos contornos repousavam serenos acompanhados por flores e véus. Vestia o terno do casamento, tio viúvo, porque da tia já havia me despedido faz tempo, levava sua vara de pescar e seu chaveiro do São Paulo. Hoje me lembrei, novamente, de que não só os tios envelhecem. Eu também envelheço. Não sou mais a menina daquela infância povoada de tios. Parte da areia da minha própria ampulheta já mudou de lado.
Pouco a pouco, os tios vão se despedindo. Outros tios da infância se foram antes, e sei, com aperto no coração e olhos nada enxutos, que outros, os outros todos irão. Sinto saudade dos tios todos e saudade da memória que eu tinha com os tios.
Sinto saudade do meu pai.
Por que dói tanto a despedida? Com ou sem fé, por que dói?
De tempos em tempos, a finitude vem nos recordar de que deixamos muitas coisas para depois. Que, por motivos frouxos e roxos, não dizemos "eu te amo", "me desculpe", "eu preciso de você", "te perdôo" na hora certa. Colocamos baterias incansáveis nos relógios com a doce enganação de que eles nunca vão parar de funcionar. Eles talvez não. Nós... nós sim.
A finitude nos pergunta: a quantas anda sua existência?
Minha resposta me acalmou.
Hoje, quando me despedi de meus tios, revi meus primos de segundo grau, filhos dos primos que são os filhos dos tios. E pensei que, um dia, talvez os filhos dos primos se lembrem de sua infância povoada de primos-tios. E eu esteja entre eles, sobrevivendo nas recordações, em instantes fugidios, em breves flashes de sorrisos e carinhos.
Vi minha mãe caminhando pelas veredas.
Vi irmão, cunhada, outros tios, primos, filhos de primos caminhando pelas veredas.
Imaginei todos meus conhecidos e amigos e queridos caminhando pelas veredas.
E, mais que a despedida do tio, talvez o que realmente doeu hoje tenha sido a aceitação do exercício do desapego. Senti saudade por antecipação.
Senti vontade de cabê-los todos no meu abraço, num grande abraço carinhoso. Senti vontade de que partilhássemos ainda muitos e muitos momentos.
É a vida que me emociona, no fim das contas.
É a vida de cada instante de carinho, de cada pequena disponibilidade, de cada oportunidade de partilha, de cada poema colhido junto no mundo -- que quantas vezes deixamos escapar, meu Deus, por motivos bestas.
Não temos tempo.
Não temos dinheiro.
Não temos paciência.
Não temos compreensão.
Não temos coragem.
Nos falta sensibilidade.
Nos falta atenção.
Nos falta disponibilidade.
Nos faltam veredas para caminhar.
Infinito enquanto dure. Mas somos finitos, não custa recordar.
sábado, 6 de outubro de 2007
Duas horas
Impossível preparar o futuro. Impossível deixar a casa arrumadinha, porque tudo se bagunça de modo inexorável, porque basta respirar e...! Um punhado de partículas se desloca daqui para lá, desorganizando a pseudo-ordem, dando início a uma ecatombe no microscópio e no microcosmo. Isso é só o começo. Linha longilínea que liga o farfalhar de borboletas no quintal da casa de minhas tias no interior geográfico até monstros marinhos que engolem Jonas no interior da consciência. Em ondas.
Eu vivia duas horas à frente.
E, com todo o carinho e alguma pretensão,
Dava uma ajeitadinha no mundo
Para que, quando meu agora fosse o agora dele,
Quando daqui a duas horas ele vivesse o que vivo agora,
Ele pudesse encontrar flores no vaso,
Água no filtro, a prateleira sem pó,
Eu sendo eu mesma, já descansada de todas as cascas e mantas,
Desobrigada de tudo, de tudo, de todos.
Deitada no sofá. Ou na cama. Ou no tapete.
Impossível preparar o futuro, mesmo vivendo duas horas à frente dele. Quando eram duas horas em seu relógio, eu já estava nas quatro. E não tinha mais o mesmo frescor das duas. E mesmo que eu o encontrasse todo faceiro às duas, eu não saberia quem ele seria às quatro. Porque duas horas mudam a gente, em duas horas o mundo muda, de duas mudas podem brotar flores ou vermes, a gente emudece ou amadurece.
Eu brincava de atrasar o relógio
Só para experimentar a sensação de estar no mesmo tempo que ele.
Esse é o nosso tempo, até parece que tem gosto!
Mas ele fugia sem querer do meu abraço, pois meus braços cansavam
E, quando ele chegava ali, eu já estava pagando contas, trabalhando, xingando o governo, passando na padaria, colocando as toalhas molhadas no varal. Eu já não estava mais disponível.
Por que eu era tão assim-como-sou a ponto de estar duas horas à frente? Se eu pudesse ficar duas horas na frente dele... De acordo com o manual de fusos horários, poderíamos buscar algum ponto onde fosse possível acertar os nossos tiques e taques. Um lugar onde as horas fossem iguais e, enfeitiçados, vivêssemos sob o mesmo ritmo. Eu não me aborreceria mais ao vê-lo, duas horas antes, já abandonando o barco, enquanto eu seguia tão entusiasmada em navegar nas duas horas seguintes. Nem me sentiria culpada quando, duas horas depois, percebesse que, de tão esquecida dele, não havia deixado rastro de minha passagem ali duas horas antes.
Quando líamos o mesmo livro e combinávamos de começar a leitura juntos, eu sempre estava dois capítulos à frente. Porque ele nunca admitia levantar mais cedo para estar de acordo com a minha hora. E eu me indignava em ter de atrasar meus afazeres só para abrir o livro segundo a hora dele. Não queríamos desorganizar nossas agendas.
Mas eu fingia distração,
Embora quisesse deixar o futuro ajeitadinho
Para quando ele chegasse.
Ele fingia desprezo,
Embora se lembrasse de catar sua sujeira
Para que, duas horas depois, não pusesse equivocadamente a culpa em mim.
No fundo, ambos tentavam controlar a vida, duas horas adiante ou atrás. Nos momentos em que suspirávamos e nenhum dos dois pensava em nada, coincidíamos. Ficávamos tão juntos que era impossível distingüir dois seres ocupando o mesmo espaço. Mas esses eram momentos, pequenos e passageiros.
Duas horas. Às vezes, quando a pilha do relógio acaba, eu tenho a ilusão de que ele me alcançou. Ou de que eu realmente o esperei, sem tanta pressa.
Eu vivia duas horas à frente.
E, com todo o carinho e alguma pretensão,
Dava uma ajeitadinha no mundo
Para que, quando meu agora fosse o agora dele,
Quando daqui a duas horas ele vivesse o que vivo agora,
Ele pudesse encontrar flores no vaso,
Água no filtro, a prateleira sem pó,
Eu sendo eu mesma, já descansada de todas as cascas e mantas,
Desobrigada de tudo, de tudo, de todos.
Deitada no sofá. Ou na cama. Ou no tapete.
Impossível preparar o futuro, mesmo vivendo duas horas à frente dele. Quando eram duas horas em seu relógio, eu já estava nas quatro. E não tinha mais o mesmo frescor das duas. E mesmo que eu o encontrasse todo faceiro às duas, eu não saberia quem ele seria às quatro. Porque duas horas mudam a gente, em duas horas o mundo muda, de duas mudas podem brotar flores ou vermes, a gente emudece ou amadurece.
Eu brincava de atrasar o relógio
Só para experimentar a sensação de estar no mesmo tempo que ele.
Esse é o nosso tempo, até parece que tem gosto!
Mas ele fugia sem querer do meu abraço, pois meus braços cansavam
E, quando ele chegava ali, eu já estava pagando contas, trabalhando, xingando o governo, passando na padaria, colocando as toalhas molhadas no varal. Eu já não estava mais disponível.
Por que eu era tão assim-como-sou a ponto de estar duas horas à frente? Se eu pudesse ficar duas horas na frente dele... De acordo com o manual de fusos horários, poderíamos buscar algum ponto onde fosse possível acertar os nossos tiques e taques. Um lugar onde as horas fossem iguais e, enfeitiçados, vivêssemos sob o mesmo ritmo. Eu não me aborreceria mais ao vê-lo, duas horas antes, já abandonando o barco, enquanto eu seguia tão entusiasmada em navegar nas duas horas seguintes. Nem me sentiria culpada quando, duas horas depois, percebesse que, de tão esquecida dele, não havia deixado rastro de minha passagem ali duas horas antes.
Quando líamos o mesmo livro e combinávamos de começar a leitura juntos, eu sempre estava dois capítulos à frente. Porque ele nunca admitia levantar mais cedo para estar de acordo com a minha hora. E eu me indignava em ter de atrasar meus afazeres só para abrir o livro segundo a hora dele. Não queríamos desorganizar nossas agendas.
Mas eu fingia distração,
Embora quisesse deixar o futuro ajeitadinho
Para quando ele chegasse.
Ele fingia desprezo,
Embora se lembrasse de catar sua sujeira
Para que, duas horas depois, não pusesse equivocadamente a culpa em mim.
No fundo, ambos tentavam controlar a vida, duas horas adiante ou atrás. Nos momentos em que suspirávamos e nenhum dos dois pensava em nada, coincidíamos. Ficávamos tão juntos que era impossível distingüir dois seres ocupando o mesmo espaço. Mas esses eram momentos, pequenos e passageiros.
Duas horas. Às vezes, quando a pilha do relógio acaba, eu tenho a ilusão de que ele me alcançou. Ou de que eu realmente o esperei, sem tanta pressa.
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
DONA DE VIDA
Os dias têm sido estranhos. Favoravelmente estranhos, como um prato novo e desconhecido e saboroso. Assim têm sido meus dias.
Pontas diversas de uma vida diversa atando-se à revelia, mas com harmonia, divertindo a dona da vida: eu.
Dona de uma vida, eu? Que responsabilidade. Quem é dono de cachorro sai com ele para passear. Quem é dono de gato não descuida da areiazinha. Quem é dono de planta busca sol, busca sombra, rega. Quem é dono de vida não pode descuidar. Mas são os donos que mais descuidam, os donos de vida, segundo estatísticas informais. Donos de peixe, de cachorro, de gato, de periquito, de plantas e de jardins inteiros aparecem como responsáveis, ativos e atenciosos. Donos de vida muitas vezes nem se dão conta de quem têm uma vida. E vivem olhando para a parede em vez de mirar a janela. E não passeiam suas vidas, não regam suas vidas, não alimentam suas vidas, não oxigenam suas vidas. Muitos ficam aborrecidos diante de suas vidas, apenas lembrando e recolhendo as cacas todas. E não são poucas.
Dona de uma vida que faz caca às vezes, mas que me entretém muito. Uma vida que, então, como dizia, tem se descoberto cotidianamente. De descobrir-se: tirar a coberta e fazer descobertas, as duas coisas. Minha vida deu para correr um tantinho na minha frente e me levar assim, quase voando, aos cantos e aos barrancos e aos encantos do mundo. Gracinha essa vida.
Aprendi a pegar a vida no colo e suspirar junto com ela. Ela se nutre de meus sorrisos e de meus desesperos. Quando se acomoda embaixo das cobertas, rouba um pouquinho a mais de lençol, mas eu não ligo. Pois, na hora do banho, quem sempre gasta mais água sou eu. A vida... a vida sabe das coisas.
E nesses dias estranhos a vida tem farejado um monte de gente. Estou distraída e, repentinamente, surpresa: alguém. Alguém que a vida farejou no meu passado recente, no meu passado remoto, no meu presente ambíguo, no fundo do pensamento, no lapso de um espirro. Essa gente que me reencontra e que eu encontro de novo. Depois de pouco ou de muito tempo. Donos de vidas essas pessoas também. De vidas que se farejam, pois as vidas farejam. Vidas ronronam e semeiam. São vidas, enfim.
Eu brigava muito com a vida. Não aceitava suas intuições e tentava impor-lhe meus caprichos. Depois a vida revoltou-se comigo. Ficou arredia e ardida. No início desse ano, depois de uma explosão de energia, ela se encolheu, amedrontada. Aos poucos, foi revendo os ares lá de fora e me puxou para o mundo. Me puxa de novo agora, para outro lado. Quer seguir os passos dos profetas. Essa minha vida tem sede de um monte de coisa que nem sabe o nome. Escuta sons de que eu às vezes duvido. Sonha melodias que ninguém cantou ainda, mas já tem quem saiba. Minha vida gosta de mar.
Os dias têm sido bonitamente estranhos, porque a vida da qual sou dona anda travessa que só. Dona é modo de dizer; sou guardiã, benfeitora, tutora, madrinha. No fundo, talvez, seja eu a mascota da vida, a afilhada. Estranho os dias cheios de travessuras começadas porque são surpreendentes e inesperados. E essa gente toda querida farejada por vida.
Um prato novo e saboroso. Ah, vida está se alimentando direito. E fica doce depois, quando eu a acomodo aqui juntinho a meu coração.
Pontas diversas de uma vida diversa atando-se à revelia, mas com harmonia, divertindo a dona da vida: eu.
Dona de uma vida, eu? Que responsabilidade. Quem é dono de cachorro sai com ele para passear. Quem é dono de gato não descuida da areiazinha. Quem é dono de planta busca sol, busca sombra, rega. Quem é dono de vida não pode descuidar. Mas são os donos que mais descuidam, os donos de vida, segundo estatísticas informais. Donos de peixe, de cachorro, de gato, de periquito, de plantas e de jardins inteiros aparecem como responsáveis, ativos e atenciosos. Donos de vida muitas vezes nem se dão conta de quem têm uma vida. E vivem olhando para a parede em vez de mirar a janela. E não passeiam suas vidas, não regam suas vidas, não alimentam suas vidas, não oxigenam suas vidas. Muitos ficam aborrecidos diante de suas vidas, apenas lembrando e recolhendo as cacas todas. E não são poucas.
Dona de uma vida que faz caca às vezes, mas que me entretém muito. Uma vida que, então, como dizia, tem se descoberto cotidianamente. De descobrir-se: tirar a coberta e fazer descobertas, as duas coisas. Minha vida deu para correr um tantinho na minha frente e me levar assim, quase voando, aos cantos e aos barrancos e aos encantos do mundo. Gracinha essa vida.
Aprendi a pegar a vida no colo e suspirar junto com ela. Ela se nutre de meus sorrisos e de meus desesperos. Quando se acomoda embaixo das cobertas, rouba um pouquinho a mais de lençol, mas eu não ligo. Pois, na hora do banho, quem sempre gasta mais água sou eu. A vida... a vida sabe das coisas.
E nesses dias estranhos a vida tem farejado um monte de gente. Estou distraída e, repentinamente, surpresa: alguém. Alguém que a vida farejou no meu passado recente, no meu passado remoto, no meu presente ambíguo, no fundo do pensamento, no lapso de um espirro. Essa gente que me reencontra e que eu encontro de novo. Depois de pouco ou de muito tempo. Donos de vidas essas pessoas também. De vidas que se farejam, pois as vidas farejam. Vidas ronronam e semeiam. São vidas, enfim.
Eu brigava muito com a vida. Não aceitava suas intuições e tentava impor-lhe meus caprichos. Depois a vida revoltou-se comigo. Ficou arredia e ardida. No início desse ano, depois de uma explosão de energia, ela se encolheu, amedrontada. Aos poucos, foi revendo os ares lá de fora e me puxou para o mundo. Me puxa de novo agora, para outro lado. Quer seguir os passos dos profetas. Essa minha vida tem sede de um monte de coisa que nem sabe o nome. Escuta sons de que eu às vezes duvido. Sonha melodias que ninguém cantou ainda, mas já tem quem saiba. Minha vida gosta de mar.
Os dias têm sido bonitamente estranhos, porque a vida da qual sou dona anda travessa que só. Dona é modo de dizer; sou guardiã, benfeitora, tutora, madrinha. No fundo, talvez, seja eu a mascota da vida, a afilhada. Estranho os dias cheios de travessuras começadas porque são surpreendentes e inesperados. E essa gente toda querida farejada por vida.
Um prato novo e saboroso. Ah, vida está se alimentando direito. E fica doce depois, quando eu a acomodo aqui juntinho a meu coração.
sinapses de quarta-feira
Partilhei com um amigo:
O mundo pesa às vezes, mas em outras vezes reza e, depois, se reveza com uma sensação de infinito desafiando nossa humilde finitude.
E a melhor coisa é o mergulho, mesmo no frio, para um olhar renovado à tona. O azul do fundo do mar sempre renova o azul da ponta do céu. O azul do fundo em fluxo com o azul da ponta.
E nesse trajeto todo -- pés, joelhos, sexo, umbigo, coração, tireóide, boca e lábios, olhos, neurônios -- o ser se junta e se recaminha, trilhando novas percepções.
O mundo pesa às vezes, mas em outras vezes reza e, depois, se reveza com uma sensação de infinito desafiando nossa humilde finitude.
E a melhor coisa é o mergulho, mesmo no frio, para um olhar renovado à tona. O azul do fundo do mar sempre renova o azul da ponta do céu. O azul do fundo em fluxo com o azul da ponta.
E nesse trajeto todo -- pés, joelhos, sexo, umbigo, coração, tireóide, boca e lábios, olhos, neurônios -- o ser se junta e se recaminha, trilhando novas percepções.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
*** farewell ***
Seus olhos tão bonitos naquele dia
Seus olhos, os mais bonitos
Olhos que já encontrei
Seus olhos nos meus sorrisos de agora
Seus olhos e o tanto de tudo
Tudo que já senti
No aeroporto
Foi dos seus olhos que me despedi
Despedida em seus olhos
Eu que já tantos olhos vi
E que por tantos já fui inclusive enxergado
Mas foram seus olhos que me disseram
Disseram, exagerados,
Tudo o que eu precisava
Saber
Naquele momento, saber
Sentir, sorver, ser
Quero mergulhar em seus olhos de novo
Certo dia, certa feita, data incerta
Incertitude
Me enxergue, por favor,
Veja-me e me deixe ficar
Impregnado de seu caramelo,
Do caramelo de sua íris
Impregnado em sua retina
Seu.
Seus olhos, os mais bonitos
Olhos que já encontrei
Seus olhos nos meus sorrisos de agora
Seus olhos e o tanto de tudo
Tudo que já senti
No aeroporto
Foi dos seus olhos que me despedi
Despedida em seus olhos
Eu que já tantos olhos vi
E que por tantos já fui inclusive enxergado
Mas foram seus olhos que me disseram
Disseram, exagerados,
Tudo o que eu precisava
Saber
Naquele momento, saber
Sentir, sorver, ser
Quero mergulhar em seus olhos de novo
Certo dia, certa feita, data incerta
Incertitude
Me enxergue, por favor,
Veja-me e me deixe ficar
Impregnado de seu caramelo,
Do caramelo de sua íris
Impregnado em sua retina
Seu.
chamado, achado
"O Senhor disse a Abraão:
'Sai de tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai, e vai para a terra que eu te mostrarei.'"
Agar, mãe de Isaac, diz:
"Tu és o Deus que olha para mim."
'Sai de tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai, e vai para a terra que eu te mostrarei.'"
Agar, mãe de Isaac, diz:
"Tu és o Deus que olha para mim."
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