quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Dia de clown



Tudo parecia uma brincadeira,
Ou, talvez, um exercício sem maiores conseqüências.
Liberdade demais, disponibilidade demais.
Corpo vivo, braços vivos, alma viva,
Mas pés plantados no chão.
Andando pelo espaço!
Agora você tem uma cor, uma forma,
Um preenchimento – vapor, água gelada,
Vento, fogo, areia, pedra, barro.
Sonho, muito sonho.
Desejo? Dúvida? Dádiva?
Sentia lagarta virando borboleta
Dentro de um casulo que não era meu,
Que não era eu.
Era ele? Quem era ele?
Olho-azul-cabelinhos-de-anjo-negros.
Ponha o nariz e sinta o cheiro do mundo
O cheiro da vida
Deixe vir à tona sua sombra e sua luz
E vire do avesso diante da plateia.
A plateia...
A plateia éramos nós
–E eu, sem saber, estava do avesso,
Já completamente entregue.
Ele ainda anjinho de cabelos negros:
Vou até o paraíso,
Aqui eu desço, vinho, você.
Não importava nem a forma nem a cor,
Só o preenchimento:
Tudo, tudo o que estava dentro.
Medo a princípio:
Quem era ele? Quem seria eu?
E na sobriedade daquela madrugada,
Quando o táxi chegou,
Nada tinha sido exatamente consumado,
Mas tudo havia se apresentado.


E eu já voava pelo espaço
Sem que ele me pedisse nada.

(2006)

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