sábado, 26 de dezembro de 2009

Identità


Carrego quatro nomes e quatro histórias que, embaralhadas, me pertencem, me fazem. Me escolheram numa multidão de recém-nascidos e me batizaram, os nomes de forma dócil, as histórias de forma impiedosa, e agora sou eu e mais um monte de fagulhas de universo. Tenho de tecer, enquanto vivo, as colchas de significados perdidos, esquecidos ou celebrados. O nome. A identidade. A personalidade. O composto de células e neurônios, de seres e sentimentos. Sou feita de muitos, por isso minha sina é a inquietude. Os hebreus-palestinos fugidos. Os italianos medievais. A mítica Maryam. Os reis europeus Fernandos e Ferdinandos. Relatos de deslocamentos infinitos e inomináveis. Minha alma vaga, alma marcada de relatos mil mas leve de plumas aprendidas, vaga pelos ângulos de um mundo que se diz redondo – não há fronteiras, apenas esquinas. Meu pensamento às vezes voa para tempos imemoriais, sonhados ou antecipados, passados ou recorrentes. Não, não me pertenço. Porque não sei quem sou além desses quatro nomes e dessas quatro histórias, que carregam outras quatro, oito, dezesseis – e umas quantas vidas.

Um comentário:

NelsonMdP disse...

O quinto Nome é o seu verdadeiro.
Assim como uma bússola apontando para o Cosmos.
Ou um mergulho no Eu profundo
A sua verdadeira Identidade transcende o mundo.