segunda-feira, 14 de maio de 2012

admirável mundo novo


Fazia contas e fazia de conta. Soltava baforadas reflexivas sem pensar em nada. Mas pensava-se, pensava-se o tempo inteiro, imerso em fugacidades (quando-é-que-eu-vou-fugir-desta-cidade?). As estatísticas desconfirmavam a invisibilidade imaginada: ei, você. Uma vez, duas vezes, até três. Ah, sim?, pois não, ou pois é, ora pois... sempre se confundia depois. Números e porcentagens, amostras e cálculos, quais as teorias probabilísticas mais prováveis para explicar o que era inexplicável? Fazia de conta, mais que fazia contas, às vezes pedia socorro a um cigarro de palha, usava botinas de couro e achava possível chutar certas dúvidas e alguns medos para longe das impassíveis soluções (sim, elas não riem, dizia, quase como uma piada, mas sempre com uma pitada de nostalgia).

Certa madrugada, num daqueles momentos repletos de sem-quereres, descobriu, entre os algoritmos marotos, instantes de poesia. E revelou mais do que sabia, e arriscou mais do que entenderia, e desafiou a rigidez das decisões empíricas. Impossível prever o futuro, suspirou, e assim, meio ao acaso, de um jeito totalmente aleatório, aprendeu a inventar versos a partir das incertezas, de todas elas, em tardes imberbes ou em noites terrivelmente sedutoras. Admirável mundo novo, esse o dos astronautas e poetas. E, sem fazer muito, deu-se conta. Pois então.

Um comentário:

NelsonMdP disse...

Admirável mundo Ovo.
Da cidade mental para o centro Causal.
Admirável mundo Interior.