Fazia contas e fazia de conta. Soltava baforadas reflexivas
sem pensar em nada. Mas pensava-se, pensava-se o tempo inteiro, imerso em
fugacidades (quando-é-que-eu-vou-fugir-desta-cidade?). As estatísticas
desconfirmavam a invisibilidade imaginada: ei, você. Uma vez, duas vezes, até
três. Ah, sim?, pois não, ou pois é, ora pois... sempre se confundia depois. Números
e porcentagens, amostras e cálculos, quais as teorias probabilísticas mais prováveis
para explicar o que era inexplicável? Fazia de conta, mais que fazia contas, às
vezes pedia socorro a um cigarro de palha, usava botinas de couro e achava possível
chutar certas dúvidas e alguns medos para longe das impassíveis soluções (sim,
elas não riem, dizia, quase como uma piada, mas sempre com uma pitada de
nostalgia).
Certa madrugada, num daqueles momentos repletos de sem-quereres,
descobriu, entre os algoritmos marotos, instantes de poesia. E revelou mais do
que sabia, e arriscou mais do que entenderia, e desafiou a rigidez das decisões
empíricas. Impossível prever o futuro, suspirou, e assim, meio ao acaso, de um
jeito totalmente aleatório, aprendeu a inventar versos a partir das incertezas,
de todas elas, em tardes imberbes ou em noites terrivelmente sedutoras. Admirável
mundo novo, esse o dos astronautas e poetas. E, sem fazer muito, deu-se conta. Pois
então.
Um comentário:
Admirável mundo Ovo.
Da cidade mental para o centro Causal.
Admirável mundo Interior.
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