"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido.
Eu não: quero uma verdade inventada"
(Clarice Lispector)
Pois hoje, embora o sol não tenha se dado ao luxo de acordar cedo, consigo ver a linha do mar. Consigo ver o mar. Consigo me imaginar, oceânica e ondular, alcançando costas e continentes nunca antes tocados ou desbravados.
Pois já fui uma pessoa não-pessoa para um certo alguém-ninguém.
Pois já fui alma penalizada despenada, dispensada pelo simples fato de encantar alguém-ninguém desencantado.
Sonho baías, sonho encostar minha cabeça numa falésia aconchegante, sonho abraçar uma ilha-mundo. Oceânica, pois sim.
Pois me tornei um vento úmido e frio que ele espanta com álcool, flanela e fósforos.
Pois o que nunca soube me falar agora solta feito mariposinha de verão: e que mulher você é, que mulher.
Pois nunca fui uma “que mulher”. Fui uma pessoa despessoalizada, despersonalizada por um sentimento peçonhento de alguém-ninguém medroso e vaporoso.
Pois nunca estive ali, naquele recanto quente com os olhos cinzentos voltados para mim. Pois sempre estive cinza, ainda que colorida e quente, diante daqueles olhos que não enxergavam futuro em mim.
Hoje, entre identidades, identificações, passaportes e tarjeta de extranjera, tento recuperar o prejuízo que aquele alguém-ninguém provocou em minha alma tão humana e tão feminina. Por isso, quero entregar-me à pessoalidade – de mim, de si, do mar.
Por isso, não mais alguéns e sim homens.
Para um homem, uma mulher.
Para um alguém-ninguém, nada. E não no meu mar.
Um comentário:
Caramba, esse foi muito intenso! E captou aquele "romantismo" que o Rio exala.
Muito bom1 Adorei mesmo!
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