quinta-feira, 29 de abril de 2010

DEADLINE


Tlim, tlom.
Tic-tic-tic-tic-tic.


O nó na garganta não subia nem descia. Estava entalado, apertava o coração lá embaixo, agitava os pés descalços, que roçavam displicentes o tapete estampado. Os olhos embaçados de choros que não vinham porque não estavam prontos. Os joelhos, curiosos, espiando pela bainha da saia sua dona aflita.

Ele escreveu (e não foi para ela): a gente não pode ter tudo o que quer.
Citou Rolling Stones: You can’t get always what you want.

As horas passavam.

Ele lhe deu um beijo de despedida, ele perguntou no dia seguinte, quando ela telefonou do aeroporto: por que você não me avisou que só voava à tarde? Ele disse que queria vê-la antes da partida. Agora não quer mais?

O tempo passava.
Seu corpo, seu corpo parecia sempre o mesmo, porém mais flácido. Menos dela, mais coletivo.

Tic-tic-tic-tic.
O cansaço gradativo e miudinho das células é implacável.
Tic-tum. Morria uma. Tic-tam. Esmorecia outra.

Ele pediu “ele e ela”, ela provou os dois, mas ficou só com ele. Ele optou por elas. Ela e ela. E era da outra que falava: a gente não pode ter tudo o que quer. Ah, aquele abraço era de nada no fim das contas. Ou tinha sido aquele abraço bom naquele dia, naquele momento e ponto.

Tlim, tlom.
Ele furava poços mundo afora. Mundo conflituoso afora. Eles se encontraram, algo brilhou, mas nevava muito. Escorregadio. Havia outra, sabe. Estou tentando construir um relacionamento, ele disse. Entendo, suspirou ela.

O corpo. O abdômen. Gordura adiposa pura, nada de mais.
O corpo. As trompas, os ovários, o útero – todos contando os dias para a aposentadoria.
Ei, ele! E ele?

Os joelhos continuavam a observar sua dona, impassível em sua dignidade de mulher-fêmea-flor. Flor. Cheia de pólen, cheia de amor, cheia de medo, cheia disso, mas vazia daquilo. Ah.

O tempo, o calendário, a idade, a veracidade, a durabilidade, os genes, os óvulos.
Almoçaram. Ele disse: quando é hora de partir, eu me vou. Ele, um peregrino. Ele, um homem do mundo, dos tempos, dos ventos, das areias e dos desertos. Ele, tão parecido com ela. Mas ele não se despede, ele simplesmente vai. E foi.
Tsi-tsi-tsi

Ela?
Ela olha pela janela, ignora os pequenos alarmes, ela sonha com aquele abdômen repleto do amor de um encontro profundo e intenso. Ela sonha com. Ela ainda sonha com. Ela, um explosivo sem hora certa para se espalhar, semear.
Ela cheia de sementes. Com aquela flor no cabelo. Com aquele nó entalado não se sabe onde. Ela e seu sorriso escondido para ele, um ele, um deles.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

peyote

Ya no sabía adonde iba ni sabía porque me quedaba, pero era lo que me suenaba cierto. Flotaba. Flotaba y hablaba aún más alto cómo si intentara desafiar mi voz, provocando mis oídos. A todo escuchaba – de los ruidos de los espinos hasta las risas del viento. Jamás el desierto me pareció tan verde. Flores en las palmas, flores en los cactus, y los ojos desde la tierra a mirarme. Ya. No me importaba si eso era factible o no, sino apenas que fuera lo que me tocara vivir. Quienes y cuando, eso tampoco me preocupaba. Había llegado al centro y probado la sencillez de caminos sin fronteras o límites de preconceptos, prejuicios, texturas o materiales. Un cielo mezclado al mar, un águila en forma de mujer.