Então, ele segurou minha mão como se. Não sei mais de nada. Os sinais apagaram, só piscava amarelo de atenção, atenção, atenção. Os cruzamentos estavam cheios, entupidos, engarrafados: vou, não vou, saio, não saio, olho, não olho, enrubesço. Enrubesci. E a mão lá, em segundos eternos, sentindo o calor daquela outra mão que a tirou do limbo e a fez sentir-se... mão. Porque fazia tempo que ninguém segurava minha mão. Assim. Ou de outro jeito. Que nenhum homem segurava minha mão assim. Ou de qualquer outro jeito. Naquele momento, éramos apenas eu, meu coração palpitante, minhas bochechas enrubescidas e minha mão. Não sentia minhas pernas, nem meus ouvidos, nem minha razão. Algo havia acontecido ali, naquele momento: eu só tinha olhos para ele. Ele, que antes era um alguém opaco, alguém de alguns ois, alguns tchaus e outros talvez. E subitamente... Uma imensidão densa, como o Mar Morto, mas viva, esgarçadamente viva, como um tremor de terra devastante, naquele instante captado por duas mãos que se encontravam, surpresas e acanhadas, num mar de peles, corpos, pelos, cabelos, pessoas, sons, cadeiras, garçons, pratos e luzes. Meu Deus! Duas mãos. A dele e a minha. Metonímias, particularidades. Suaves, quentes, gentis – um encontro! Oh! Velozmente, vorazmente, agudamente, mais e mais, de um jeito estúpido porém cálido, eu me transformava numa imensa e esbelta mão direita abraçada com tanta ternura por outra mão direita, maior que eu, mais grisalha que eu, volúvel e dissoluta, infinitamente mais tímida que eu. E eu...
Quando me dei conta, já estava na porta do restaurante e meu amigo me olhava com marotice:
“Não foi nada.”
“Foi o quê?” – desfaleci.
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