Deixei a chave do lado de fora da porta. E ele entrou.
Deixei minhas armadilhas ao lado da cama, e ali ele logo se deitou. Deixei meu
coração sem defesa por um instante – e ele o arrebatou.
Aqui estou, tarde longa de domingo distraído, quase sem
vento, quase sem solidão, à espera de uma sensação qualquer que possa ordenar a
multidão de vontadezinhas e pensamentozinhos e fantasiazinhas e pedacinhos
tortos de mim mesma espalhados nessa bagunça sem-fim. O telefone não vai tocar,
o e-mail não vai chegar. Nem virão a carta, o verso, a foto, o postal. Me
escapam a inspiração e o apetite; mas não há fome nem dor, apenas um leve calor
de carne que existe, de sangue que corre, de desejo que acende, de mulher que
ama. Falta ele, e ele faz falta.
As horas se arrastam para fazer companhia à minha espera.
Drummond repousa na mesa de cabeceira, repetindo: reserve-se toda para as bodas
que ninguém sabe quando virão, se é que virão. Aperto os lábios abortando um
quase-soluço, tropeço na saudade e sujo as paredes com certas canções
lacrimosas. Ele faz falta.
Deixei um mapa especialmente feito para ele, mas ele não
voltou.